01/07/2025

Cabecear bola no futebol produz alterações mensuráveis no cérebro

Redação do Diário da Saúde
Cabecear bola no futebol faz mal?
Alguns países estão implementando gradualmente restrições ao cabeceio, incluindo a proibição da prática entre jogadores jovens.
[Imagem: Nathan Delang et al. - 10.1186/s40798-025-00867-0]

Cabecear faz mal ao cérebro?

Cabecear uma bola de futebol não tem um impacto imediato na cognição, mas altera o cérebro, alertam cientistas australianos.

Embora Nathan Delang e seus colegas da Universidade de Sidney tenham focado nos impactos imediatos sobre a cognição, outros estudos já concluíram que cabecear gera um declínio mensurável na função cerebral e até que cabeceadas na bola aumentam risco de demência.

Contudo, mesmo focando no curto prazo, a equipe demonstrou evidências de que cabecear uma bola no esporte mais praticado do mundo pode afetar o cérebro, mesmo quando não ocorre uma concussão.

Os resultados sinalizam a necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos a longo prazo do cabeceio, afirmam os autores, à medida que o maior risco de demência entre ex-jogadores profissionais de futebol se torna mais evidente. Eles também justificam a investigação de intervenções de proteção, incluindo nutrição e canabinoides.

"Estas descobertas sugerem que mesmo cabeceios rotineiros e sem sintomas podem produzir mudanças sutis no cérebro. O próximo passo é entender se essas mudanças se acumulam ao longo do tempo e o que isso pode significar para a saúde do jogador a longo prazo," disse Danielle McCartney, coautora do estudo.

Como cabecear afeta o cérebro

Usando ressonância magnética de última geração, os pesquisadores conseguiram identificar alterações regionais na estrutura, função e química do cérebro. Exames de sangue e de função cognitiva também foram realizados.

O estudo utilizou um ambiente rigorosamente controlado, com bolas lançadas a uma velocidade constante por uma máquina. Cada um dos 15 participantes também completou uma condição de controle envolvendo chutar a bola, em vez de cabeceá-la, permitindo aos pesquisadores isolar os efeitos da cabeceada.

Os exames de ressonância magnética identificaram alterações sutis, mas mensuráveis. Entre elas, alterações químicas em uma região do cérebro envolvida no controle motor e diminuição da condutividade elétrica em diversas áreas. Essas descobertas sugerem que o cabeceio afeta o uso e as necessidades energéticas do cérebro e a forma como as informações são transmitidas pela substância branca.

As amostras de sangue também apresentaram níveis elevados de duas proteínas: GFAP e NFL. Essas proteínas são atualmente consideradas alguns dos melhores biomarcadores sanguíneos disponíveis para lesão cerebral e risco futuro de demência. No entanto, as alterações associadas ao cabeceio foram muito menores do que as normalmente observadas nessas condições.

Alguns países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, estão implementando gradualmente restrições ao cabeceio, incluindo a proibição da prática entre jogadores jovens.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The acute effects of non-concussive head impacts on brain microstructure, chemistry and function in male soccer players: A pilot randomised controlled trial
Autores: Nathan Delang, Rebecca V. Robertson, Fernando A. Tinoco Mendoza, Luke A. Henderson, Caroline D. Rae, Stuart J. McDonald, Ben Desbrow, Christopher Irwin, Aimie L. Peek, Elizabeth A. Cairns, Paul J. Austin, Michael A. Green, Nicholas W. Jenneke, Jun Cao, William T. O’Brien, Shane Ball, Michael E. Buckland, Katherine Rae, Iain S. McGregor, Danielle McCartney
Publicação: Sports Medicine - Open
Vol.: 11, Article number: 77
DOI: 10.1186/s40798-025-00867-0
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