15/09/2012

Cérebro não possui um circuito neural do medo

Com informações da Agência Fapesp

Medos complexos

Não existe nada como um "circuito do medo no cérebro".

Ao contrário do que os cientistas acreditavam anteriormente, tipos distintos de medo - como o medo de estímulos dolorosos, o medo de predadores naturais e o medo de membros agressivos da mesma espécie - são processados em circuitos neurais independentes entre si.

Além de distinguir as vias neurais de processamento dos "medos instintivos" e de diferentes tipos de "medos aprendidos" -, os pesquisadores também descobriram que esses mecanismos podem se reproduzir também em seres humanos.

Com isso, os estudos poderão contribuir para uma melhor compreensão sobre problemas como síndrome do pânico e estresse pós-traumático.

Destaque

Todas estas são conclusões de trabalhos de cientistas brasileiros, que estão atraindo atenção internacional.

Os artigos que as descrevem foram capa da revista Nature Reviews Neuroscience de setembro.

As pesquisas foram coordenadas por Newton Canteras, do Laboratório de Neuroanatomia Funcional do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).

Reação de medo

De acordo com Canteras, quando o tema começou a ser estudado por seu grupo, por volta de 1995, predominava na comunidade científica uma teoria unitária de organização das respostas de medo no sistema nervoso.

"Esse processo foi descoberto a partir de experimentos que associavam um estímulo doloroso - como um choque, por exemplo - e um som ou ambiente específico. Depois de ser submetido a essa associação várias vezes, o animal apresentava uma reação de medo ao ser exposto ao som ou ambiente, mesmo sem o estímulo doloroso. Achava-se que esse tipo de experimento era suficiente para explicar integralmente a reação de medo", disse.

No entanto, quando começaram a estudar o sistema neural que está envolvido com uma situação natural de medo, os pesquisadores da USP perceberam que os mecanismos não eram tão simples quanto pareciam.

"Quando testamos a exposição do roedor a um gato, que é seu predador natural, descobrimos que a resposta de medo ativava uma região cerebral completamente diferente da que era ativada pelo medo de um simples estímulo doloroso. A partir daí passamos vários anos realizando estudos com foco na reprodução mais precisa de medos naturais", afirmou Canteras.

Doenças derivadas do medo

Segundo o pesquisador, o animal é constituído de forma a ter uma reação de medo quando é exposto a algo que ameaça sua vida. Assim, as reações inatas de medo são divididas em duas categorias: a ameaça predatória - que é a presença de um predador - e a ameaça social, que é o medo de um animal agressivo da mesma espécie.

"Descobrimos que não havia apenas distinção entre as vias neurais ativadas para a reação inata de medo e a reação de medo aprendido - que é o caso do estímulo doloroso -, mas o medo causado pelo predador e pela ameaça social também percorre caminhos diferentes no cérebro", explicou.

Segundo Canteras, as descobertas foram consideradas importantes porque uma série de patologias humanas derivam do medo - como a ansiedade, a síndrome do pânico e o estresse pós-traumático.

"O fato de serem distintas as vias neurais do processamento do medo tem várias consequências. Um indivíduo que toma um choque não entra em pânico quando vê uma tomada posteriormente. Mas quem foi assaltado e sofreu ameaça de morte, acaba tendo uma reação de pânico ao ser submetido a um estímulo associado àquele evento", declarou.

"Entender o sistema neural usado em cada situação nos ajudará a entender como são organizadas as respostas de medo aprendido. As vias neurais do medo aprendido é que estão relacionadas às patologias humanas", concluiu.

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