08/07/2025

Clima espacial influencia ocorrência de infarto, sobretudo entre mulheres

Redação do Diário da Saúde
Clima espacial influencia a ocorrência de infarto, sobretudo entre mulheres
O Sol segue ciclos de 11 anos. Nos picos, o vento solar impacta mais fortemente a camada magnética protetora da Terra.
[Imagem: Nasa/Goddard]

Campo magnético e saúde

Cientistas encontraram uma correlação inusitada entre perturbações no campo magnético da Terra, decorrentes de tempestades solares, e um aumento na frequência de ataques cardíacos - sobretudo entre mulheres.

Para chegar a essa conclusão, Luiz Felipe Rezende e colegas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) analisaram dados da rede pública de saúde do município de São José dos Campos (SP), registrados entre 1998 e 2005, um período de intensa atividade solar. Também foram usados dados do Índice Planetário (Kp-Index), um indicador de variações no campo geomagnético da Terra.

"Classificamos os dias analisados como calmos, moderados ou perturbados. E os dados de saúde foram divididos por sexo e faixa etária [até 30 anos; entre 31 e 60; acima de 60 anos]. Vale destacar que o número de infartos entre os homens é quase duas vezes maior - independentemente da condição geomagnética.

"Mas quando olhamos para a taxa de frequência relativa de casos constatamos que, para mulheres, ela é nitidamente mais alta durante condições geomagnéticas perturbadas em comparação com as condições calmas. Na faixa entre 31 e 60 anos chega a ser três vezes maior. Portanto, nossos resultados sugerem que as mulheres têm maior suscetibilidade à condição geomagnética," disse Luiz Felipe.

Clima espacial influencia a ocorrência de infarto, sobretudo entre mulheres
Internações hospitalares e mortes por infarto do miocárdio por sexo, sob diferentes condições geomagnéticas.
[Imagem: Luiz Felipe C. Rezende et al. - 10.1038/s43856-025-00887-7]

Impacto do vento solar sobre a saúde

As perturbações geomagnéticas são causadas pelo impacto do vento solar na região mais externa da atmosfera, chamada magnetosfera, porque é lá que o vento solar encontra o campo magnético da Terra. Os efeitos desse fenômeno sobre a comunicação via satélite, sistemas de posicionamento global (GPS) e outras tecnologias de comunicação já são bastante conhecidos, mas o impacto sobre a saúde humana é muito menos estudado.

Desde o fim da década de 1970, estudos feitos no hemisfério Norte têm sugerido que as partículas magnéticas arremessadas pelo Sol podem também ter impacto sobre a saúde humana, particularmente sobre o sistema cardiovascular. Dados apontam como possíveis explicações as mudanças induzidas na pressão arterial, no ritmo cardíaco e até mesmo no ritmo circadiano, que regula o ciclo sono-vigília e todas as funções biológicas do organismo.

"Este é o primeiro estudo sobre o tema feito para nossas latitudes, mas ele também não é conclusivo. Portanto, a intenção não é incitar alarme na população, particularmente entre as mulheres. Existem algumas limitações a serem consideradas: Trata-se de uma investigação observacional realizada em uma única cidade, utilizando um tamanho amostral ainda não ideal para as questões médicas. Contudo, achamos que essas descobertas representam um resultado empírico de significância hipotética e relevância que não devem ser desconsideradas no contexto científico," destacou o pesquisador.

Clima espacial influencia a ocorrência de infarto, sobretudo entre mulheres
Mortalidade por infarto do miocárdio por sexo, faixas etárias e sob diferentes condições geomagnéticas - contagens absolutas e frequências relativas.
[Imagem: Luiz Felipe C. Rezende et al. - 10.1038/s43856-025-00887-7]

Ciclos solares

O Sol passa por períodos de maior e menor atividade magnética, em um ciclo que dura em média 11 anos. Estima-se que entre o fim de 2024 e o início de 2025 tenha ocorrido a fase conhecida como "máximo solar", ou seja, o período do ciclo de maior atividade magnética.

Segundo especialistas, 2025 será um ano de alta atividade solar. Contudo, vale ressaltar que as perturbações no campo magnético da Terra ocorrem de forma esporádica. O Inpe mantém um site que monitora essas variações.

"Cientistas de todo o mundo têm tentado predizer a ocorrência de perturbações geomagnéticas, mas a acurácia, por enquanto, não é boa. Quando esse tipo de serviço estiver mais avançado - e caso se confirme o impacto dos distúrbios magnéticos no coração -, poderemos pensar em estratégias de prevenção do ponto de vista da saúde pública, considerando principalmente indivíduos que já sofrem de problemas cardíacos," avaliou Luiz Felipe.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Influence of geomagnetic disturbances on myocardial infarctions in women and men from Brazil
Autores: Luiz Felipe C. Rezende, Eurico R. De Paula, Marcio T. A. H. Muella, Severino L. G. Dutra, Reinaldo R. Rosa, Paulo H. N. Saldiva, Jean P. H. B. Ometto
Publicação: Nature Communications Medicine
Vol.: 5, Article number: 247
DOI: 10.1038/s43856-025-00887-7
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