01/07/2010

Criatividade e esquizofrenia usam mesmos canais cerebrais

Katarina Sternudd
Criatividade e esquizofrenia usam mesmos canais cerebrais
O estudo mostrou que, quanto mais criativa é uma pessoa, menos receptores D2 há em seu tálamo - ou seja, menos moléculas de dopamina ligam-se aos neurônios nessa área do cérebro.
[Imagem: Manzano et al./PLoS]

Esquizofrenia e criatividade

Cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, descobriram que os cérebros de pessoas saudáveis e altamente criativas são semelhantes aos cérebros de pacientes com esquizofrenia em alguns aspectos essenciais.

Nos dois casos, há uma grande semelhança no funcionamento do sistema de dopamina.

Os resultados foram publicados na revista científica Public Library of Science (PLoS).

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença mental grave que se caracteriza por disfunções na convivência social e por uma série de sintomas psicóticos, como alucinações e pensamentos desarticulados ou desorganizados.

De acordo com uma pesquisa feita em 2005, aproximadamente 4 em cada 1.000 pessoas em todo o mundo são afetadas pela esquizofrenia - um dado que se mostrou muito abaixo da estimativa anterior de 1%.

Alguns pesquisadores acreditam que um grande número de artistas e cientistas devem as suas mentes únicas e criativas à esquizofrenia.

Por exemplo, alguns psicólogos citam pintor holandês Vincent Van Gogh e o matemático e economista John Nash como provavelmente tendo sofrido de esquizofrenia.

Por isso, várias equipes de psiquiatras e neurologistas estão interessados em explorar a relação entre esquizofrenia e uma criatividade elevada.

Criatividade

Usando uma série de testes psicológicos, a equipe sueca identificou um grupo de 13 pessoas saudáveis e altamente criativas. Estes testes ajudam a medir a criatividade ou "pensamento divergente", isto é, um fluxo gerador de ideias livre e contínuo.

Uma pessoa é considerada criativa quando consegue dar respostas novas e significativas para questões abertas, sem soluções óbvias, em oposição a respostas triviais ou bizarras.

Os pesquisadores então estudaram estes cérebros criativos usando técnicas de imageamento médico, como a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET: Positron Emission Tomography), que permite aos cientistas acompanhar moléculas específicas no organismo dos pacientes.

Sistema de dopamina

Os cientistas centraram sua atenção sobre o sistema de dopamina, que é conhecido por estar associado com sintomas psicóticos.

A dopamina é um neurotransmissor, uma substância química produzida naturalmente pelo organismo que transmite mensagens entre os neurônios. Ela está envolvida em muitas funções cerebrais, como a cognição, a aprendizagem, ou o sistema de recompensa e punição.

Para entender o papel do sistema dopaminérgico em seu grupo experimental, os neurologistas mediram a densidade da chamada dopamina-2 (D2) em zonas do cérebro que são especificamente conhecidas por estarem ligadas à esquizofrenia.

Onde criativos e esquizofrênicos sem encontram

O estudo mostrou que, quanto mais criativa é uma pessoa, menos receptores D2 há em seu tálamo - ou seja, menos moléculas de dopamina ligam-se aos neurônios nessa área do cérebro.

"Pacientes esquizofrênicos também têm baixa densidade de D2 nesta parte do cérebro," explica o Dr. Fredrik Ullén, coautor do estudo.

Esta semelhança impressionante oferece uma explicação única para a conexão existente entre as diferentes ideias que uma pessoa criativa usa para resolver um problema, e as associações mentais incomuns ou bizarras que os pacientes com esquizofrenia fazem.

Filtro do cérebro

O tálamo funciona como uma espécie de filtro do cérebro, "peneirando" um sinal antes que ele possa chega ao córtex cerebral, a sede dos processos ligados ao pensamento racional.

"Menos receptores D2 no tálamo provavelmente significa um menor grau de filtragem dos sinais e, assim, um maior fluxo de informações a partir do tálamo," diz o Dr. Ullén. Em outras palavras: "Pensar fora dos padrões pode ser mais fácil para quem tem padrões menos rígidos."

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