É do ruim para o pior
Você acredita que beber moderadamente protege seu cérebro? É melhor rever suas crenças.
Uma pesquisa em escala inédita desmente essa crença de longa data de que o consumo leve de álcool seja protetor para o cérebro, na verdade mostrando que o risco de demência aumenta em proporção direta à quantidade consumida, sem nível seguro identificado.
Em outras palavras, o caminho entre consumo de bebidas alcoólicas e demência não vai do "pouco protetor" ao "muito danoso" - é do "pouco danoso" ao "muito danoso".
Por anos, estudos observacionais têm indicado uma relação em formato de "U" entre álcool e saúde cerebral: Abstinência e consumo pesado seriam ruins, mas o consumo leve a moderado (a suposta "dose ótima") parecia ser protetora. Essa ideia, no entanto, sempre foi complexa de provar, já que é difícil separar o efeito real do álcool de outros fatores de estilo de vida, ou da causalidade reversa, ou seja, se o declínio cognitivo precoce levava as pessoas a beber menos.
Risco crescente e sem proteção
Anya Topiwala e colegas de várias universidades nos EUA e na Europa analisaram dados observacionais e genéticos (utilizando a técnica de randomização mendeliana) de dois grandes bancos de dados, totalizando mais de 559 mil participantes.
A análise observacional de fato revelou inicialmente o famoso padrão em forma em formato de "U": Não-bebedores e bebedores pesados (mais de 40 doses por semana) apresentaram um risco de demência 41% maior do que os bebedores leves (menos de 7 doses por semana).
Contudo, na análise genética o efeito protetor do consumo leve de álcool desapareceu. A análise genética por randomização mendeliana usa variantes genéticas ligadas ao consumo de álcool para estimar o risco de vida, minimizando a influência de fatores externos. O resultado foi claro: O risco de demência aumentou linearmente com o aumento do consumo de álcool geneticamente previsto.
Por exemplo, um aumento de 1 a 3 doses extras por semana foi associado a um risco 15% maior de demência; já a duplicação no risco genético de dependência alcoólica mostrou-se associada a um aumento de 16% no risco de demência.
Causalidade reversa
Os resultados indicam que o hipotético efeito protetor encontrado nos estudos anteriores era provavelmente um engano estatístico. A pesquisa revelou que indivíduos que vieram a desenvolver demência tendiam a reduzir o consumo de álcool nos anos que antecederam o diagnóstico, confirmando que o declínio cognitivo (a doença) estava levando à redução do consumo (o efeito), e não o contrário.
Ou seja, estes novos resultados "contestam a noção de que baixos níveis de álcool são neuroprotetores," disse a equipe, destacando que seu estudo também reforça a importância de considerar os fatores de confusão e a causalidade reversa nas pesquisas sobre o envelhecimento e o álcool.
A conclusão geral é que reduzir - preferencialmente zerar - o consumo de álcool é uma estratégia importante e válida para a prevenção da demência, oferecendo uma nova perspectiva para diretrizes de saúde pública em todo o mundo.
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