16/10/2025

Risco de demência aumenta com qualquer consumo de álcool, diz megaestudo

Redação do Diário da Saúde
Risco de demência aumenta com qualquer consumo de álcool, diz megaestudo
Conheça 12 coisas que você pode fazer para evitar ter demência.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

É do ruim para o pior

Você acredita que beber moderadamente protege seu cérebro? É melhor rever suas crenças.

Uma pesquisa em escala inédita desmente essa crença de longa data de que o consumo leve de álcool seja protetor para o cérebro, na verdade mostrando que o risco de demência aumenta em proporção direta à quantidade consumida, sem nível seguro identificado.

Em outras palavras, o caminho entre consumo de bebidas alcoólicas e demência não vai do "pouco protetor" ao "muito danoso" - é do "pouco danoso" ao "muito danoso".

Por anos, estudos observacionais têm indicado uma relação em formato de "U" entre álcool e saúde cerebral: Abstinência e consumo pesado seriam ruins, mas o consumo leve a moderado (a suposta "dose ótima") parecia ser protetora. Essa ideia, no entanto, sempre foi complexa de provar, já que é difícil separar o efeito real do álcool de outros fatores de estilo de vida, ou da causalidade reversa, ou seja, se o declínio cognitivo precoce levava as pessoas a beber menos.

Risco crescente e sem proteção

Anya Topiwala e colegas de várias universidades nos EUA e na Europa analisaram dados observacionais e genéticos (utilizando a técnica de randomização mendeliana) de dois grandes bancos de dados, totalizando mais de 559 mil participantes.

A análise observacional de fato revelou inicialmente o famoso padrão em forma em formato de "U": Não-bebedores e bebedores pesados (mais de 40 doses por semana) apresentaram um risco de demência 41% maior do que os bebedores leves (menos de 7 doses por semana).

Contudo, na análise genética o efeito protetor do consumo leve de álcool desapareceu. A análise genética por randomização mendeliana usa variantes genéticas ligadas ao consumo de álcool para estimar o risco de vida, minimizando a influência de fatores externos. O resultado foi claro: O risco de demência aumentou linearmente com o aumento do consumo de álcool geneticamente previsto.

Por exemplo, um aumento de 1 a 3 doses extras por semana foi associado a um risco 15% maior de demência; já a duplicação no risco genético de dependência alcoólica mostrou-se associada a um aumento de 16% no risco de demência.

Risco de demência aumenta com qualquer consumo de álcool, diz megaestudo
Outro trabalho recente já havia mostrado que os estudos científicos sobre consumo moderado de álcool contêm falhas graves.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Causalidade reversa

Os resultados indicam que o hipotético efeito protetor encontrado nos estudos anteriores era provavelmente um engano estatístico. A pesquisa revelou que indivíduos que vieram a desenvolver demência tendiam a reduzir o consumo de álcool nos anos que antecederam o diagnóstico, confirmando que o declínio cognitivo (a doença) estava levando à redução do consumo (o efeito), e não o contrário.

Ou seja, estes novos resultados "contestam a noção de que baixos níveis de álcool são neuroprotetores," disse a equipe, destacando que seu estudo também reforça a importância de considerar os fatores de confusão e a causalidade reversa nas pesquisas sobre o envelhecimento e o álcool.

A conclusão geral é que reduzir - preferencialmente zerar - o consumo de álcool é uma estratégia importante e válida para a prevenção da demência, oferecendo uma nova perspectiva para diretrizes de saúde pública em todo o mundo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Alcohol use and risk of dementia in diverse populations: evidence from cohort, case-control and Mendelian randomisation approaches
Autores: Anya Topiwala, Daniel F. Levey, Hang Zhou, Joseph D. Deak, Keyrun Adhikari, Klaus P. Ebmeier, Steven Bell, Stephen Burgess, Thomas E. Nichols, Michael Gaziano, Murray Stein, Joel Gelernter
Publicação: BMJ Evidence-Based Medicine
DOI: 10.1136/bmjebm-2025-113913
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