Liberdade versus determinismo
Filósofos têm argumentado por séculos, milênios, na verdade, sobre se as nossas vidas são guiadas por nossa própria vontade ou se são pré-determinadas como resultado de uma cadeia contínua de eventos sobre os quais não temos controle.
Por um lado, parece que tudo o que acontece tem algum tipo de explicação causal; por outro, quando tomamos decisões, parece-nos que temos o livre arbítrio que nos permitiria tomar decisões diferentes e trilhar outros caminhos.
A maioria das pessoas parece concordar com o império do livre-arbítrio.
Contudo, embora muitos, nas mais diversas culturas, rejeitem o que é conhecido como determinismo, todos continuam encarando conflitos sobre o papel da responsabilidade pessoal em situações que exigem julgamentos morais.
Filosofia experimental
O professor Shaun Nichols, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, é um dentre um número crescente de pesquisadores que estão tentando encarar esse dilema filosófico através da aplicação de métodos experimentais usados pelos psicólogos do desenvolvimento e por outros cientistas sociais.
Suas últimas conclusões ("A Filosofia Experimental e o Problema do Livre Arbítrio") foram publicadas na edição desta semana da revista Science.
Até recentemente, essas questões foram dissecadas usando "reflexão cuidadosa e sustentada, aguçada por um diálogo com colegas filósofos," disse Nichols.
"Quase tudo o que as pessoas têm feito é trabalhar com estes problemas de forma conceitual. Você pensa por meio de problemas; você pensa sobre as implicações de algumas teses. E um monte de trabalhos excelentes foi feito sobre complexas questões filosóficas usando essas técnicas ao longo dos últimos 2.000 anos".
Mas Nichols está trazendo para a filosofia experimental outra ferramenta que pode proporcionar novas fontes de informação e ajudar a resolver alguns destes problemas.
Livre arbítrio e determinismo
O debate sobre o livre-arbítrio e o determinismo é um problema desse tipo.
O princípio central do determinismo é que tudo o que acontece é o resultado de algo que o fez acontecer, e esse algo foi provocado por um algo anterior e assim por uma cadeia infinita que remonta ao início dos tempos.
O conflito surge quando as pessoas se deparam com a necessidade de fazer uma escolha ou tomar uma decisão que resulta em tomar caminhos diferentes, todos eles caminhos igualmente possíveis.
"O dilema é como conciliamos a forma como normalmente pensamos sobre a explicação causal com a intuição de que temos de que nossas decisões não são apenas o produto destas cadeias causais inevitáveis," disse Nichols.
Parece que algo tem que ser abandonado, seja o nosso gosto pelo livre arbítrio, seja a ideia de que cada evento é completamente causado por eventos anteriores."
Livre-arbítrio entre as crianças
O filósofo decidiu então testar a noção do livre-arbítrio em crianças.
Quando perguntadas se uma bola que estava rolando em uma rampa rumo a uma caixa poderia ter um destino diferente, quase universalmente as crianças responderam "não".
Mas quando perguntadas se um adulto que aproximou sua mão da caixa poderia fazer outra coisa que não fosse enfiar a mão na caixa, a resposta foi uniformemente "sim".
Os resultados são óbvios e nada mais fazem do que reproduzir o dilema, mas podem indicar que estes conceitos se formam muito precocemente.
Livre-arbítrio entre os adultos
Já os adultos mostraram os resultados conflitantes que se verifica sobre a questão desde o surgimento da filosofia.
Dado um universo determinista, onde cada decisão é o resultado de decisões passadas, as pessoas geralmente responderam que ninguém poderia ser considerado moralmente responsável por suas ações em tal universo.
Mas quando apresentadas com um cenário em que um homem nesse universo teórico cometeu um ato criminoso hediondo, a maioria dos participantes concordaram que o homem tinha inteira responsabilidade moral por suas ações.
Pergunta mal feita
Uma possível explicação para estas respostas que o filósofo chama de "conflitantes" é que, quando as pessoas estão calmas e serenas, o determinismo parece excluir o livre-arbítrio e a responsabilidade moral.
Já os casos que são mais emocionalmente carregados e "mais próximos de casa" suscitam respostas diferentes.
"Quando você apresenta às pessoas uma transgressão carregada emocionalmente, e se você pergunta se a pessoa é moralmente responsável, então a esmagadora maioria diz que a pessoa é responsável, mesmo que sua ação tenha sido o resultado determinístico de outra coisa," diz o pesquisador.
Aceitas ou não essas hipóteses, o experimento não resolve a questão se o nosso universo é um universo determinístico ou um universo guiado pelo livre-arbítrio - a forma como a questão é posta dita o resultado do experimento.
Filosofia de laboratório
A filosofia experimental, contudo, segundo Nichols, pode ajudar a compreender porque as pessoas são levadas em direções diferentes em uma série de problemas do dia-a-dia.
"Esse movimento tem menos de 10 anos e hoje já existem centenas de publicações sobre a filosofia experimental. Nesta revisão eu foquei o livre-arbítrio, mas há uma grande quantidade de trabalhos sobre outros temas, incluindo o julgamento moral, o raciocínio causal, e como as pessoas pensam sobre a consciência," diz ele.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Ética | Sentimentos | Espiritualidade | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.