08/09/2025

Medicamento ativado por luz só faz efeito no local preciso onde é necessário

Redação do Diário da Saúde
Medicamento ativado por luz só faz efeito no local preciso onde é necessário
O novo protocolo de fotofarmacologia sem fio e sem bateria, baseado na liberação local e controlada de medicamentos ativáveis por luz, comprovou sua eficácia no tratamento da dor em modelos animais.
[Imagem: Minsung Kim et al. - 10.1016/j.bios.2025.117440]

Medicamentos fotoativáveis

Cientistas desenvolveram o primeiro dispositivo sem fio capaz de ativar remotamente um medicamento e fazer com que ele tenha efeitos terapêuticos em órgãos específicos. Este é um passo gigantesco rumo à redução dos efeitos colaterais, que tipicamente ocorrem quando os medicamentos chegam a órgãos do corpo onde eles não são necessários.

O conceito é conhecido como fotofarmacologia, ou medicação fotoativável, com os remédios sendo ativados apenas quando irradiados por um feixe de luz. Só então eles passam a produzir o efeito terapêutico local nos tecidos-alvo.

Os testes iniciais vinham sendo feitos com a luz sendo emitida por meio de uma via fibra óptica, mas agora cientistas apresentaram o primeiro dispositivo sem fios para ativar o medicamento - a luz é emitida por um LED mediante um comando enviado por ondas de rádio.

Este novo dispositivo demonstrou sua eficácia no tratamento da dor em um estudo com uma molécula fotossensível derivada da morfina, um dos opioides mais utilizados devido à sua grande capacidade analgésica.

Embora tenha sido testado até agora apenas em modelos animais, o medicamento ativado por luz abre novas perspectivas para tratamentos analgésicos mais seguros, eficazes e personalizáveis, especialmente no contexto da dor crônica, e sem causar os efeitos danosos derivados do uso de opioides, como o vício e dependência química.

Sem efeitos colaterais

O efeito analgésico da morfina liberada localmente na medula com o fotodispositivo foi comparável ao da morfina administrada sistemicamente.

"No entanto, a diferença marcante foi a ausência dos efeitos adversos típicos dos opioides, como tolerância ao efeito analgésico, constipação, dependência e vício. Superar a potencial dependência e os efeitos colaterais associados aos opioides foi uma das principais motivações," disse o professor Francisco Ciruela, da Universidade de Barcelona (Espanha).

O dispositivo usado nesta pesquisa inicial integra uma miniantena de radiofrequência que recebe energia, sem fio ou com fio, via tecnologia NFC, que então liga o LED que emite a luz que ativa o medicamento.

Uma vez implantado nos animais, o dispositivo facilita a livre movimentação no ambiente, removendo barreiras físicas que poderiam alterar a eficácia terapêutica do fármaco fotoativado. O sistema também permite regular a intensidade e a frequência da luz irradiada para melhorar o controle das doses de luz e do efeito farmacológico de acordo com as necessidades terapêuticas.

Novas fronteiras em fotofarmacologia

Os testes em humanos ainda exigirão que a tecnologia se torne menos invasiva. Mas vale a pena investir na tecnologia porque, além do tratamento da dor, o novo protocolo de fotofarmacologia sem fio também poderá ser aplicado a diversas patologias, em particular no tratamento personalizado de doenças crônicas, que exigem ação farmacológica muito precisa ou envolvem riscos associados a efeitos adversos sistêmicos.

"No caso da epilepsia, a liberação local de anticonvulsivantes em regiões específicas do cérebro pode permitir o controle das crises sem afetar o restante do sistema nervoso central, evitando assim a sedação e outros efeitos colaterais gerais," explicou Ciruela. "Em doenças neurodegenerativas, como o Parkinson, a fotoativação local de medicamentos dopaminérgicos ou outros moduladores pode ser usada para melhorar os sintomas motores de forma focal e segura. Em transtornos psiquiátricos como a esquizofrenia, a ativação luminosa de antipsicóticos em áreas cerebrais específicas pode aumentar a eficácia terapêutica, reduzir os efeitos adversos e melhorar a adesão do paciente ao tratamento."

Finalmente, nos tratamentos do câncer, a fotoativação de quimioterápicos diretamente no ambiente do tumor pode ser uma estratégia para garantir alta concentração local do medicamento e menor toxicidade sistêmica.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Wireless, battery-free, remote photoactivation of caged-morphine for photopharmacological pain modulation without side effects
Autores: Minsung Kim, Marc López-Cano, Kaiqing Zhang, Yue Wang, Xavier Gómez-Santacana, África Flores, Mingzheng Wu, Shupeng Li, Haohui Zhang, Yuanting Wei, Xiuyuan Li, Cameron H. Good, Anthony R. Banks, Amadeu Llebaria, Jordi Hernando, Sung-Hyuk Sunwoo, Jianyu Gu, Yonggang Huang, Francisco Ciruela, John A. Rogers
Publicação: Biosensors and Bioelectronics
Vol.: 281, 117440
DOI: 10.1016/j.bios.2025.117440
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Equipamentos Médicos

Fotônica

Medicamentos

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2025 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.