25/08/2025

São os olhos - e não o cérebro - que organizam as imagens

Redação do Diário da Saúde
São os olhos - e não o cérebro - que organizam as imagens
Surpreendentemente, o ajuste temporal dos sinais visuais é feito no próprio olho, e não no cérebro, como os cientistas acreditavam.
[Imagem: Annalisa Bucci et al. - 10.1038/s41593-025-02011-3]

Sincronismo visual

Nossa percepção depende não apenas do que vemos, mas também de quando vemos. Sinais iniciados por células sensíveis à luz na retina viajam através de várias fibras nervosas antes de convergirem no nervo óptico e então seguir até o cérebro.

Mas aí surge uma dúvida: Essas fibras nervosas têm comprimentos variados, e mesmo células vizinhas na retina central podem transmitir sinais por distâncias muito diferentes - então, como é que o cérebro desembaralha todos os "bits" da imagem, já que eles não chegam em sequência?

A resposta surpreendeu: O cérebro nem precisa se preocupar com isso, porque os neurônios do próprio olho fazem todo o trabalho, mandando tudo organizado para o processamento cerebral.

Annalisa Bucci e colegas da Universidade da Basileia (Suíça) descobriram que as diferenças na velocidade e nas distâncias percorridas pelos sinais nervosos coletados pela retina são ativamente equilibradas dentro do próprio olho humano, de modo a garantir uma experiência visual unificada e temporalmente precisa.

São os olhos - e não o cérebro - que organizam as imagens
Outro estudo havia revelado recentemente que as ilusões de óptica estão nos olhos, e não na mente.
[Imagem: Annalisa Bucci et al. - 10.1038/s41593-025-02011-3]

Como o olho organiza as imagens

Veja as principais conclusões deste estudo inédito:

  • Ajuste axonal na retina humana: Axônios mais longos de células ganglionares da retina têm diâmetros maiores e velocidades de condução mais rápidas, o que ajuda a alinhar os tempos de chegada do sinal.
  • Precisão em milissegundos: Esse mecanismo de balanceamento ajuda a alinhar o tempo dos sinais de diferentes partes da retina, reduzindo as diferenças no tempo de chegada para apenas alguns milissegundos.
  • Múltiplas camadas de compensação: Além da velocidade do axônio, outros fatores, como o tempo de resposta inicial das células da retina e ajustes adicionais no cérebro, contribuem para a sincronização.

Além de contestar as teorias anteriores, que defendiam que tudo era balanceado no cérebro, estas descobertas levantam questões importantes sobre como as fibras nervosas se ajustam durante o desenvolvimento - por exemplo, como seu diâmetro é regulado e como suas membranas ajudam a controlar a velocidade da transmissão de sinais.

A compreensão desses mecanismos pode revelar princípios fundamentais da coordenação temporal no cérebro, com relevância muito além do sistema visual, dizem os pesquisadores.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Synchronization of visual perception within the human fovea
Autores: Annalisa Bucci, Marc Büttner, Niklas Domdei, Federica B. Rosselli, Matej Znidaric, Julian Bartram, Tobias Gänswein, Roland Diggelmann, Martina De Gennaro, Cameron S. Cowan, Wolf Harmening, Andreas Hierlemann, Botond Roska, Felix Franke
Publicação: Nature Neuroscience
DOI: 10.1038/s41593-025-02011-3
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