Radioterapia por gênero
Mulheres submetidas à radioterapia para muitos tipos de câncer têm mais probabilidade de cura do que os homens, mas os efeitos colaterais são bem mais graves.
A Dra Eva Bezak, da Universidade do Sul da Austrália, conta que as mulheres geralmente são mais sensíveis à radiação do que os homens, mas isso não é considerado nas diretrizes internacionais para dosagens de radiação.
As diretrizes atuais são geralmente baseadas na altura, peso ou IMC (índice de massa corporal) de uma pessoa e nas respostas radiobiológicas da população em geral, obtidas como média em estudos de larga escala.
Com os novos dados, contudo, passa a ser urgente levar em consideração o gênero do paciente ao administrar radiação.
"Está claro que o gênero desempenha um papel na ocorrência e resposta à terapia de muitas doenças," disse Bezak. "Por exemplo, já está bem estabelecido que os homens são mais suscetíveis a câncer de cabeça, pescoço e sangue e as mulheres são mais propensas a doenças autoimunes, assim como de desenvolver osteoporose".
Os cientistas também já concluíram que as respostas individuais à radioterapia são determinadas individualmente em até 80%, com larga proporção de fatores genéticos.
Medicina feminina e medicina masculina
Então, por onde começar para implantar essa necessária "medicina de gênero"?
"O próximo passo é garantir que usemos tanto camundongos machos quanto fêmeas, mesmo em nossos testes pré-clínicos, de forma que possamos entender melhor como o gênero influencia os resultados do tratamento. Também é importante coletar dados retrospectivamente para que possamos comparar os resultados da radioterapia para homens e mulheres que receberam radioterapia para o mesmo câncer," recomenda a especialista.
E o caso específico da radioterapia também é uma faca de dois gumes para os homens: Por serem mais resistentes à radioterapia do que as mulheres, seus tecidos são menos afetados ao receber radioterapia. Isso significa menos efeitos colaterais, mas também menores efeitos, com suas taxas de sobrevida a longo prazo sendo mais curtas em comparação com as mulheres.
Efeitos da radiação sobre as mulheres
As diferenças nas respostas à radiação são acentuadas por dois grandes eventos da história: O desastre nuclear de Chernobyl em 1986 e as bombas atômicas lançada sobre a população civil de Hiroshima e Nagasaki em 1945.
A professora Bezak afirma que, após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, a incidência de câncer no Japão foi muito maior em mulheres (58%) em comparação com homens (35%).
Da mesma forma, após o acidente nuclear de Chernobyl, milhões de meninas que nasceram de homens e mulheres que receberam a radiação apresentaram maior risco de desequilíbrio endócrino, câncer de tireoide e tumores cerebrais.
A única área que parece oferecer proteção às mulheres contra a radiação é o hormônio feminino estrogênio, que tem um efeito neuroprotetor durante a irradiação da cabeça.
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