20/04/2020

Ser feliz com menos: É preciso romper normais sociais

Redação do Diário da Saúde

Escolhas versus normas sociais

Há coisas que parecem ser opções, mas também parecem ser ordens culturalmente fixadas: Pense em situações como ter muitos filhos em alguns países da África, ou consumir demais nos países ocidentais.

De fato, pesquisadores estão demonstrando que, em vez de "escolhas", questões como esses dois exemplos não são preferências pessoais, mas normas sociais às quais as pessoas aderem subconscientemente.

E mudanças nesses padrões - consumir menos do que seus amigos e vizinhos ou ter menos filhos do que costumava acontecer na sua família - aumentam a felicidade média na sociedade.

Esta é a conclusão de Scott Barrett e um grande grupo de pesquisadores de várias universidades da Europa e EUA e das Nações Unidas.

"Todo mundo tem o direito de escolher livremente. Assim, parece que há pouco que se possa fazer sobre esses assuntos," comentou o professor Marten Scheffer, da Universidade de Wageningen (Países Baixos). "No entanto, existe uma alternativa sustentável que, talvez surpreendentemente, aumentaria o bem-estar da grande maioria. Muitas pessoas sentem intuitivamente que esse poderia ser o caso, mas elevar o nível da discussão sobre questões como consumo e crescimento populacional, passando da conversa fútil infundada para ideias fundamentadas que sugiram soluções, é um desafio."

Pressão social subconsciente

O trabalho demonstra que muitas preferências aparentes surgem da pressão social percebida subconscientemente.

Por exemplo, uma pesquisa realizada entre dois grupos religiosos diferentes em Bangladesh mostrou que as mulheres tendem a querer o número de filhos que é a norma em seu grupo, e não o do outro grupo. As preferências são "contagiosas", o que pode levar a população a continuar tendo muitos filhos, mesmo que famílias menores tornem suas vidas significativamente mais confortáveis.

Os padrões de consumo nos países ricos mostram uma dinâmica semelhante. As pessoas tendem a se comparar aos outros em seus ganhos materiais, como moradia, roupas e veículos. No entanto, um desejo menor de comprar produtos caros gera espaço para empreendimentos sociais, como passeios com amigos e outras coisas que promovem uma sensação de bem-estar.

Outras pesquisas indicam que uma família menor leva a uma redução da pobreza em grande parte do mundo.

Mudança de padrões de consumo

Mas como iniciar uma mudança em larga escala em relação ao comportamento que possa contribuir para uma qualidade de vida mais sustentável e melhor?

Pesquisas mostram que educar as mulheres tem um efeito significativo no desejo de ter filhos. No quesito consumo, por sua vez, a influência das mídias sociais, mídias tradicionais e modelos de comportamento nas normas comportamentais é enorme.

"O fato de atitudes e práticas humanas serem incorporadas socialmente sugere que é possível que as pessoas reduzam suas taxas de fertilidade e demandas de consumo sem experimentar uma perda no bem-estar," concluem os autores.

Coronavírus: hora de refletir?

Scheffer também identificou outra possibilidade de ação: "Nossa publicação aparece em um momento em que tudo se tornou fluido devido ao coronavírus. Um drama global obviamente. Mas um aspecto é que muitos de nós foram subitamente colocados em uma posição em que temos mais tempo para nós mesmos e para nossas famílias. Estamos dando um passo atrás nas viagens, na compra de objetos e todo tipo de outras coisas."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Social dimensions of fertility behavior and consumption patterns in the Anthropocene
Autores: Scott Barrett, Aisha Dasgupt, Partha Dasgupt, W. Neil Adger, John Anderies, Jeroen van den Bergh, Caroline Bledsoe, John Bongaarts, Stephen Carpenterm, F. Stuart Chapin III, Anne-Sophie Crepino, Gretchen Daily, Paul Ehrlich, Carl Folke, Nils Kautsky, Eric F. Lambin, Simon A. Levin, Karl-Göran Mäler, Rosamond Naylor, Karine Nyborgx, Stephen Polaskyy, Marten Scheffer, Jason Shogren, Peter Sogaard Jorgensen, Brian Walker, James Wilen
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
DOI: 10.1073/pnas.1909857117
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