01/09/2023

Tumores cerebrais hackeiam a comunicação entre os neurônios

Redação do Diário da Saúde
Tumores cerebrais hackeiam a comunicação entre os neurônios
E são apenas as metástases que fazem isto.
[Imagem: Alberto Sanchez-Aguilera et al. - 10.1016/j.ccell.2023.07.010]

Hackeando neurônios

Quase metade de todos os pacientes com metástases cerebrais apresentam comprometimento cognitivo.

Até agora, os médicos e cientistas acreditavam que isto se devia à presença física do tumor pressionando o tecido neural.

Mas esta hipótese do "efeito de massa" começou a se mostrar falha quando se verificou que frequentemente não existe relação entre o tamanho do tumor e o impacto cognitivo: Tumores pequenos podem causar alterações significativas e tumores grandes podem produzir efeitos leves.

Alberto Aguilera e colegas do Centro Nacional Espanhol de Pesquisa do Câncer finalmente conseguiram desvendar o enigma, desbancando de vez o efeito de massa.

A explicação para os danos cognitivos gerados pelos tumores está no fato de que a metástase cerebral atrapalha a atividade do cérebro ao alterar a química cerebral de modo a atrapalhar a comunicação entre os neurônios - os neurônios se comunicam através de impulsos elétricos gerados e transmitidos por alterações bioquímicas nas células e no seu ambiente.

Os resultados mostram que é de fato a metástase que afeta a atividade elétrica do cérebro de uma forma específica, deixando assinaturas claras e reconhecíveis - diferentemente da ocorrência apenas do tumor primário.

Tumores cerebrais hackeiam a comunicação entre os neurônios
A metástase (verde mais claro) interage com um neurônio (verde mais brilhante). Esse neurônio foi marcado artificialmente para a pesquisa, mas está rodeado por muitos outros, interagindo também com a metástase.
[Imagem: Manuel Valiente/CNIO]

Encontrar medicamentos

Para os pesquisadores, esta descoberta representa uma mudança de paradigma na compreensão básica do desenvolvimento das metástases cerebrais e tem implicações na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento desta patologia.

Um dos objetivos da equipe agora é encontrar medicamentos que protejam o cérebro de perturbações nos circuitos neuronais induzidas pelo câncer. "Vamos procurar moléculas envolvidas nas alterações da comunicação neuronal induzidas por metástases e avaliá-las como possíveis alvos terapêuticos," disse o professor Manuel Valiente.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Machine learning identifies experimental brain metastasis subtypes based on their influence on neural circuits
Autores: Alberto Sanchez-Aguilera, Mariam Masmudi-Martín, Andrea Navas-Olive, Patricia Baena, Carolina Hernández-Oliver, Neibla Priego, Lluís Cordón-Barris, Laura Alvaro-Espinosa, Santiago García, Sonia Martínez, Miguel Lafarga, Cecilia Sobrino, Nuria Ajenjo, Maria-Jesus Artiga, Eva Ortega-Paino, Virginia García-Calvo, Angel Pérez-Núñez, Pedro González-León, Luis Jiménez-Roldán, Luis Miguel Moreno, Olga Esteban, Juan Manuel Sepúlveda, Oscar Toldos, Aurelio Hernández Laín, Alicia Arenas, Guillermo Blasco, José Fernández Alén, Adolfo de la Lama Zaragoza, Antía Domínguez Núñez, Lourdes Calero, Concepción Fiaño Valverde, Ana González Piñeiro, Pedro David Delgado López, Mar Pascual, Gerard Plans Ahicart, Begoña Escolano Otín, Michael Z Lin, Fátima Al-Shahrour, Liset Menendez de la Prida, Manuel Valiente
Publicação: Cancer Cell
DOI: 10.1016/j.ccell.2023.07.010
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