02/09/2015

Câncer é questão de evolução, não de mutações aleatórias, defendem cientistas

Redação do Diário da Saúde

Teoria do câncer

Os cientistas geralmente explicam o surgimento do câncer por um modelo conhecido como "acumulação de mutações", segundo o qual mutações genéticas, herdadas ou geradas pela interação com o ambiente, acumulam-se no organismo para dar origem aos tumores.

Esse modelo agora está sendo contestado pela equipe do Dr. James DeGregori, da Universidade do Colorado (EUA), em um estudo publicado na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

Segundo a equipe, um modelo de oncogênese muito mais realista envolve "pressões evolutivas que atuam em populações de células".

Em termos simples, a equipe argumenta que o ecossistema de um tecido saudável faz com que as células saudáveis superem aquelas com mutações cancerígenas; é quando os ecossistemas dos tecidos são alterados - devido ao envelhecimento, tabagismo ou outros fatores estressantes - que as células com mutações cancerígenas podem de repente vencer a competição, tornando-se mais aptas e fazendo com que a sua população se expanda ao longo de gerações celulares.

Mudança prática

Não se trata de uma mera mudança teórica: esta nova forma de pensar sobre a oncogênese tem profundas implicações para a terapia do câncer e para a concepção de novos medicamentos.

"Nós temos tentado criar drogas que têm como alvo mutações nas células cancerosas. Mas se é o ecossistema do corpo que permite o crescimento do câncer, e não apenas o câncer causando mutações, nós também devemos priorizar intervenções e escolhas de estilo de vida que promovam a capacidade das células saudáveis, a fim de suprimir o surgimento de câncer," defende DeGregori.

Além disso, mutações oncogênicas estão quase sempre presentes no corpo de todos os indivíduos saudáveis, mas são mantidas sob controle pelo tecido saudável. Isto é, até o ecossistema do tecido mudar de modo a tornar as células com mutações cancerígenas mais aptas a sobreviver do que as células saudáveis.

O novo modelo tem suporte experimental de estudos que mostram que as mutações que podem causar câncer não necessariamente aumentam a aptidão de uma célula para superar suas competidoras. "Na verdade, as células saudáveis são tão otimizadas para um ambiente de tecido saudável que quase qualquer mutação as torna menos aptas," disse o pesquisador.

"Quando o corpo muda devido ao envelhecimento, tabagismo, diferenças genéticas herdadas ou outros fatores, ele altera o ecossistema do tecido, permitindo que um novo tipo de célula substitua as saudáveis," defende DeGregori.

Paradoxo de Peto

O novo modelo ajuda a responder a uma pergunta antiga na ciência do câncer, conhecida como o Paradoxo de Peto - se o câncer é causado por mutações genéticas aleatórias, animais maiores, com mais células, deveriam ter um risco maior de desenvolver a doença mais cedo em suas vidas. Por que então mamíferos de tamanhos e expectativas de vida muito diferentes parecem desenvolver câncer principalmente no final da vida?

"As baleias azuis têm mais de um milhão de vezes mais células e vivem cerca de 50 vezes mais do que um camundongo, mas a baleia não tem mais risco do que um camundongo de desenvolver câncer ao longo de sua vida," disse DeGregori.

A resposta que ele propõe para o paradoxo é que, além de mutações ativadoras aleatórias, o câncer pode necessitar de alterações geralmente associadas ao tecido, a fim de que a evolução favoreça a sobrevivência e crescimento de células cancerosas na competição com as células saudáveis.

Como evitar o câncer

A nova teoria tira o foco dos medicamentos e reforça as recomendações já feitas há muito tempo, de alterações no estilo de vida como motores da sonhada diminuição do risco de câncer, como não fumar, exercitar-se regularmente etc.

Infelizmente não podemos adiar o envelhecimento para sempre. Mas a equipe defende que centrar a atenção em tecidos saudáveis permitirá o desenvolvimento de novas terapias e novas estratégias para evitar ou retardar o surgimento do câncer.

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