17/01/2020

Engramas podem ser a unidade básica da nossa memória

Redação do Diário da Saúde
Cientistas acreditam que engramas são a unidade básica da memória
Uma célula de engrama ao lado de uma célula não-engramática.
[Imagem: Josselyn/Tonegawa - 10.1126/science.aaw4325]

Engramas

Embora o cientista Richard Semon tenha introduzido o conceito de "engrama" há 115 anos para postular uma base neural para a memória, evidências diretas de engramas só começaram a ser coletadas muito recentemente, à medida que tecnologias e métodos mais sofisticados se tornaram disponíveis.

Em uma revisão desse novo conhecimento, feito para a revista Science, os professores Susumu Tonegawa (MIT) e Sheena Josselyn (Universidade de Toronto) descrevem esse rápido progresso feito nos últimos doze anos na identificação, caracterização e até na manipulação de engramas, bem como as principais questões pendentes desse campo de pesquisa.

Experimentos em roedores revelaram que os engramas existem como redes multiescala de neurônios. Uma experiência é armazenada como uma memória potencialmente recuperável no cérebro quando neurônios excitados em uma região do cérebro, como o hipocampo ou a amígdala, são recrutados para um conjunto local. Esses conjuntos combinam-se com outros em outras regiões, como o córtex, estruturando o que é entendido como um "complexo de engrama".

A capacidade dos neurônios de forjar novas conexões é crucial para esse mecanismo de interligação das células do engrama, por meio de processos conhecidos como "plasticidade sináptica" e "formação da coluna dendrítica".

É importante ressaltar que os experimentos mostram que a memória inicialmente armazenada em um complexo de engrama pode ser recuperada por sua reativação, mas também pode persistir "silenciosamente" mesmo quando as memórias não podem ser recuperadas naturalmente - por exemplo, em modelos de camundongos usados para estudar distúrbios da memória, como a doença de Alzheimer em estágio inicial. É como se a memória estivesse "lá", mas não pudesse ser recuperada pelo sujeito.

Imaginando o futuro

"Há mais de 100 anos, Semon apresentou uma lei da engrafia. A combinação dessas ideias teóricas com as novas ferramentas que permitem aos pesquisadores criar imagens e manipular engramas no nível dos conjuntos celulares facilitou muitas descobertas importantes sobre a função da memória.

"Por exemplo, as evidências indicam que tanto o aumento da excitabilidade intrínseca quanto da plasticidade sináptica trabalham lado a lado para formar engramas, e que esses processos também podem ser importantes na vínculação, na recuperação e na consolidação da memória," escrevem os dois especialistas.

Por outro lado, por mais que esse campo de pesquisa tenha avançado, escreveram Josselyn e Tonegawa, ainda existem perguntas importantes não respondidas e aplicações potenciais inexploradas: Como os engramas mudam com o tempo? Como os engramas e as memórias podem ser estudados mais diretamente em seres humanos? E será que a aplicação do conhecimento sobre engramas biológicos pode inspirar avanços na inteligência artificial, que, por sua vez, poderiam fornecer novos insights sobre o funcionamento dos engramas?

Responder a essas perguntas deve ser o objetivo principal das pesquisas na área da engrafia, postulam os dois pesquisadores.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Memory engrams: Recalling the past and imagining the future
Autores: Sheena A. Josselyn, Susumu Tonegawa
Publicação: Science
Vol.: 367, Issue 6473, eaaw4325
DOI: 10.1126/science.aaw4325
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