30/09/2025

Nova estrutura filosófica repensa a ética da deficiência

Redação do Diário da Saúde
Nova estrutura filosófica repensa a ética da deficiência
A deficiência é um fato, mas o efeito de uma mesma deficiência não é o mesmo para todas as pessoas.
[Imagem: Diário da Saúde/Gerado por IA]

Visões da deficiência

Pesquisadores japoneses desenvolveram uma nova estrutura filosófica para entender a relação entre a deficiência e o bem-estar.

Batizada de "visão da diferença ruim condicional", a proposta é que a deficiência deve ser vista como uma desvantagem se, e somente se, ela interferir na capacidade do indivíduo de perseguir suas aspirações e projetos de vida.

O debate filosófico sobre a deficiência tem sido dominado por duas visões opostas. De um lado, a "visão da diferença ruim" argumenta que a deficiência é intrinsecamente prejudicial ao bem-estar, mesmo em uma sociedade ideal sem discriminação. Do outro, a "visão da mera diferença" defende que, nesse mesmo cenário ideal, a deficiência é eticamente neutra, assim como a raça ou o gênero.

Ambas as perspectivas, porém, falham em capturar a diversidade de experiências vividas pelas pessoas com deficiência, tratando-a como uma condição uniforme.

A nova visão condicional foi desenvolvida justamente para oferecer um olhar mais sutil e individualizado. "Nossa visão introduz uma nuance que reflete as experiências diversas das pessoas com deficiência, que muitas vezes faltou nesses debates," explicou Shu Ishida, da Universidade de Hiroshima. "Se uma deficiência é ruim ou neutra para uma pessoa depende de como ela afeta o modo de vida ao qual a pessoa aspira."

Por exemplo, uma condição que limite a mobilidade pode ser uma barreira significativa para alguém que gostaria de ser um atleta, mas pode ter um impacto neutro ou mesmo positivo na vida de alguém cujas paixões e carreira são plenamente realizáveis nessa condição.

Vantagens da diferença ruim condicional

Os pesquisadores já se anteciparam e discutiram possíveis objeções potenciais à sua teoria.

Uma delas, a "objeção da realizabilidade múltipla", argumenta que experiências valiosas podem ser alcançadas de várias maneiras, minimizando o impacto da deficiência. Os autores contra-argumentam que certas combinações de deficiências podem, de fato, restringir significativamente as experiências disponíveis.

Outra objeção, a dos "bens específicos da deficiência", sustenta que algumas deficiências podem trazer ganhos únicos. Os autores reconhecem isso, mas salientam que tais ganhos não se aplicam universalmente a todas as pessoas com uma dada deficiência.

A principal aplicação da "diferença ruim condicional" é servir como um princípio orientador para políticas, tecnologias e discussões éticas, promovendo um respeito maior pela autonomia e diversidade das pessoas com deficiência, dizem os pesquisadores. Entre as vantagens, eles citam:

  • Desenvolvimento de Tecnologias Assistivas: A estrutura pode orientar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de apoio, focando em ferramentas que realmente ampliem a capacidade dos indivíduos de buscarem seus objetivos específicos, em vez de impor uma visão única de "correção".
  • Bioética e Políticas Públicas: A diferença ruim condicional oferece uma lente mais refinada para discutir questões complexas, como a seleção de embriões, ao destacar a importância dos projetos de vida individuais, embora os autores reconheçam que ainda persistam desafios normativos.
  • Inclusão Social: Ao centrar a discussão nas aspirações da pessoa, o modelo envolve as pessoas com deficiência no diálogo de maneira mais significativa, fugindo de visões paternalistas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Disability, Subject-Dependence, and the Bad-Difference View
Autores: Shu Ishida, Mitsuru Sasaki-Honda, Tsutomu Sawai
Publicação: Bioethics
DOI: 10.1111/bioe.70012
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Ética

Felicidade

Qualidade de Vida

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2025 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.