14/05/2021

Gravações de ondas cerebrais fazem tratamento individualizado de Parkinson

Redação do Diário da Saúde
Gravações de ondas cerebrais fazem tratamento individualizado de Parkinson
É primeiro estudo de longo prazo com a técnica, e na qual os dados foram coletados em condições reais.
[Imagem: Roee Gilron et al. - 10.1038/s41587-021-00897-5]

Estimulação cerebral contra Parkinson

Cientistas anunciaram ter estabelecido as bases para o uso da terapia de estimulação cerebral para tratar Parkinson e outros distúrbios neurológicos de forma personalizada.

A estimulação transcraniana consiste na aplicação de uma corrente elétrica de baixa intensidade no córtex cerebral, uma terapia que vem sendo testada em pacientes com Alzheimer e depressão.

Primeiro, Roee Gilron e seus colegas da Universidade da Califórnia de São Francisco (EUA) implantaram em cinco pacientes novos eletrodos de neuroestimulação, projetados para monitorar a atividade cerebral por muitos meses, o que lhes permitiu fazer registros neurais de longo prazo com e sem terapia de estimulação cerebral profunda.

A seguir, com os pacientes usando monitores portáteis de movimento, os pesquisadores conseguiram identificar padrões de atividade cerebral correspondentes a anormalidades de movimento específicas associadas ao Parkinson.

Eles então parearam os registros e monitoraram os resultados, que forneceram a primeira evidência, durante as atividades normais da vida diária, de que os sintomas de Parkinson estão relacionados a padrões de ondas cerebrais erráticos.

E, mais do que isso, que a estimulação cerebral profunda consegue restaurar a ordem das ondas cerebrais do paciente, evitando sintomas como movimentos lentos (bradicinesia), dificuldade para andar e tremores.

"Isso nos permitiu, realmente pela primeira vez, entender a atividade cerebral por trás de problemas neurológicos específicos conforme eles ocorrem no mundo real. Podemos registrar centenas de horas de atividade das ondas cerebrais sem fio enquanto os pacientes realizam suas atividades normais," disse o Dr. Philip Starr, membro da equipe.

Controle das ondas cerebrais

Há muito se suspeita que padrões erráticos das ondas cerebrais desempenham um papel no desencadeamento dos sintomas de Parkinson, mas as pesquisas anteriores no monitoramento da atividade das ondas cerebrais de pacientes com Parkinson eram limitadas a curtos períodos em ambientes clínicos.

Os sensores implantados, que medem a atividade elétrica nas áreas cerebrais do subtálamo e do córtex motor, permitiram o registro contínuo da atividade cerebral enquanto os pacientes realizavam sua rotina diária.

Meses de gravações produziram uma quantidade enorme de dados. Para classificar tudo isso, os pesquisadores desenvolveram um algoritmo para comparar a atividade das ondas cerebrais com os dados coletados pelos detectores de movimento que os pacientes usavam em seus pulsos.

Eles descobriram que períodos de discinesia (movimento excessivo induzido por medicamentos) e bradicinesia correspondiam a ondas cerebrais exageradas em bandas de frequência específicas, tanto no subtálamo quanto no córtex motor.

Depois de meses de análise e filtragem dos sinais reais, os pesquisadores os usaram para fornecer impulsos elétricos ao cérebro, melhorando os sintomas ao regular os padrões de ondas cerebrais erráticas dos pacientes, em parte suprimindo as ondas de baixa frequência que inibem o movimento e regulando as ondas de alta frequência que promovem o movimento.

A equipe já se prepara para um ensaio clínico randomizado, que incluirá outros 10 pacientes. Os pesquisadores acreditam que isso irá acelerar muito os tratamentos individualizados para a doença de Parkinson, porque novos algoritmos para identificar padrões dos sintomas podem ser testados imediatamente, ao contrário dos anos e às vezes décadas envolvidos no desenvolvimento de novos medicamentos.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Long-term wireless streaming of neural recordings for circuit discovery and adaptive stimulation in individuals with Parkinson’s disease
Autores: Roee Gilron, Simon Little, Randy Perrone, Robert Wilt, Coralie de Hemptinne, Maria S. Yaroshinsky, Caroline A. Racine, Sarah S. Wang, Jill L. Ostrem, Paul S. Larson, Doris D. Wang, Nick B. Galifianakis, Ian O. Bledsoe, Marta San Luciano, Heather E. Dawes, Gregory A. Worrell, Vaclav Kremen, David A. Borton, Timothy Denison, Philip A. Starr
Publicação: Nature Biotechnology
DOI: 10.1038/s41587-021-00897-5
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