13/09/2019

Lítio tem efeito benéfico em pacientes com Alzheimer

Com informações da Agência Fapesp
Lítio tem efeito benéfico em pacientes com Alzheimer
Os astrócitos tratados com lítio apresentam menos marcas de senescência, marcas estas destacadas em azul.
[Imagem: Tânia Araújo Viel]

Lítio contra Alzheimer

O uso de lítio no combate ao Alzheimer tem sido objeto de pesquisa diversas equipes há mais de uma década.

Novos resultados obtidos por cientistas do Brasil e dos Estados Unidos sugerem que os efeitos benéficos do elemento para a memória podem estar relacionados à sua capacidade de retardar o envelhecimento celular, um dos fatores relacionados ao surgimento de doenças neurodegenerativas.

Os dados foram apresentados pela professora Tânia Viel, da USP (Universidade de São Paulo), que, juntamente com sua colega Marielza Andrade Nunes, fez parte da pesquisa com colegas do Instituto Buck de Pesquisas sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos.

Já se sabia que, quando administrado em doses muito pequenas, o elemento lítio, usado como estabilizador de humor em pacientes com transtorno bipolar e depressão, ajuda na manutenção da memória de idosos com Alzheimer.

Das células aos pacientes

Para desvendar o mecanismo que permite a obtenção desses efeitos, Viel recorreu a uma técnica de reprogramação que permite transformar células adultas - do sangue ou do fibroblasto (camada mais interna da pele) - em células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês), que posteriormente foram induzidas a se diferenciar em astrócitos, o tipo celular mais abundante do sistema nervoso central.

Os astrócitos foram separados em dois grupos. À medida que sofriam o envelhecimento celular natural, uma parte era tratada com lítio, enquanto a outra não recebia nenhum tratamento. "Observamos que o envelhecimento foi bastante reduzido nas culturas que receberam o lítio. O envelhecimento celular é um dos fatores relacionados ao aumento do câncer e de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson", disse Viel.

O próximo teste passou das células em cultura para o cérebro de camundongos, à medida que os animais envelheciam. "Os animais tratados com lítio desde pequenos mantiveram toda a formação da memória. Existe uma relação grande entre o aumento de ansiedade e a perda de memória na velhice. A redução da ansiedade nos animais pode estar relacionada à manutenção da memória," explicou a pesquisadora.

Esses resultados vieram se juntar aos testes feitos com pacientes, que mostraram uma melhora na memória de idosos que tomavam microdoses de lítio como complemento alimentar. Alguns metais podem ser receitados para suprir deficiências nutricionais.

Efeitos benéficos e pesquisas futuras

Os pesquisadores então sistematizaram um estudo clínico e selecionaram um grupo de pacientes idosos diagnosticados com Alzheimer. Metade dos voluntários recebeu as microdoses de lítio, de 1,5 miligrama por dia - em pessoas com transtorno bipolar, a dosagem é de pelo menos 60 miligramas. A outra parte dos pacientes tomou apenas placebo. Os idosos foram acompanhados por um ano e meio, com a realização regular de testes de memória.

"A partir do terceiro mês, a memória dos pacientes tratados com lítio estabilizou. No outro grupo, o desempenho foi decaindo. O tratamento foi mantido por mais um tempo, para termos certeza do efeito observado. A partir do momento que comprovamos essa diferença, passamos a dar lítio para todos," contou Viel.

Os próximos passos da pesquisa envolvem modelos celulares e novos testes com pacientes. Como não se sabe exatamente as causas da doença, os pesquisadores vão testar o lítio no contexto das diferentes hipóteses que explicam o Alzheimer.

A equipe pretende acompanhar grupos de idosos com e sem Alzheimer para que se entendam as diferenças entre eles. Embora haja um fator genético, nem sempre pessoas predispostas desenvolvem a doença. Os pesquisadores querem entender quais são os agentes protetores do cérebro de idosos saudáveis.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Microdose Lithium Treatment Stabilized Cognitive Impairment in Patients with Alzheimer’s Disease
Autores: Marielza Andrade Nunes, Tânia Araujo Viel, Hudson Sousa Buck
Publicação: Current Alzheimer Research
Vol.: 10, Issue 1
DOI: 10.2174/1567205011310010014
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