19/09/2012

Maior parte do DNA humano tem função bioquímica e não é lixo

Carlos Orsi - Inovação Unicamp

Decodificação

Um consórcio formado por centenas de pesquisadores de dezenas de laboratórios de todo o mundo anunciou, na última semana, que a maior parte do material genético humano, comumente chamado de "DNA lixo", na verdade desempenha importantes funções bioquímicas, e seu estudo deve vir a ter um papel fundamental no futuro da pesquisa biomédica.

Apenas pouco mais de 1% de todo o DNA contém genes que codificam a formação de proteínas.

Mas, de acordo com as conclusões do consórcio Encode, 80% do material genético é ativo, e provavelmente atua na regulação da atividade dos genes.

O "Encode" (acrônimo em inglês para "Enciclopédia de Elementos do DNA") usou dados de sequenciamento genético de 147 diferentes tipos de células.

Os resultados foram publicados em seis artigos lançados na edição online da revista britânica Nature e em mais 24 trabalhos divulgados em duas outras publicações científicas, sendo 18 no periódico Genome Research e outros seis, em Genome Biology.

Fios condutores

"Longe de ser lixo, a vasta maioria de nosso DNA toma parte em pelo menos um evento bioquímico em pelo menos um tipo de célula", diz nota emitida pela revista britânica para resumir a conclusão geral da meia dúzia de papers sob sua responsabilidade direta.

Outra descoberta do Encode foi a de que a mesma região de regulação do DNA pode desempenhar diferentes funções, dependendo do tipo de célula em que se encontra.

A organização dos dados se revelou tão complexa, com os mesmos assuntos sendo tratados sob diferentes aspectos em diferentes artigos, que os três periódicos criaram um sistema de "fios condutores", ou "threads", para permitir a leitura integrada do material. As treze linhas estão organizadas em um site montado especialmente para esse fim pela Nature.

De acordo com o artigo principal publicado na Nature, muitos dos prováveis elementos reguladores presentes no DNA e descobertos pelo Encode estão associados fisicamente entre si e a genes que codificam proteínas, "o que oferece novas ideias sobre os mecanismos da regulação genética", escrevem os autores.

"Os elementos identificados também mostram correspondência estatística com variantes de sequências ligadas a doenças humanas", o que pode ajudar a interpretar melhor o significado e o papel dessas variantes.

Variação genética entre pessoas

"Nos seres humanos, o DNA é 99,9% idêntico de uma pessoa para outra", explicou, por meio de nota, o pesquisador Manolis Kellis, do MIT, um dos autores do material publicado pela revista britânica. "O que o Encode faz é permitir anotar o que cada nucleotídeo do genoma faz, então, quando há uma mutação, podemos fazer algumas previsões sobre as consequências".

De acordo com Kellis, o consórcio agora avançará na personalização dos dados obtidos, "perguntar como é a variação natural entre indivíduos, fazendo o perfil de diferentes tipos de célula de pessoas diferentes, e ver como essas variações se relacionam a doenças e características humanas complexas".

O consórcio Encode é financiado pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano (NHGRI), um órgão do governo federal dos Estados Unidos. De acordo com o NHGRI, mais de 100 artigos científicos já foram publicados, por cientistas de fora do projeto, utilizando dados gerados pelo consórcio.

Todos os dados produzidos pelo grupo estão disponíveis, gratuitamente, na internet, no endereço http://encodeproject.org/ENCODE/.

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