18/05/2012

Questionada relação entre colesterol bom e ataques cardíacos

Redação do Diário da Saúde

Indicador, mas não causador

Um artigo que acaba de ser publicado na renomada revista The Lancet questiona a hipótese de que a elevação do HDL de uma pessoa - o chamado "colesterol bom" - vá necessariamente diminuir seu risco de um ataque cardíaco.

Para os pesquisadores, o colesterol bom pode dar informações sobre o risco de um ataque cardíaco, mas não parece ter nenhum efeito causal nesse processo, ou seja, elevar o colesterol bom não necessariamente reduziria o risco de ataque cardíaco.

Depois de estudar os genes de cerca de 170.000 indivíduos, a equipe descobriu que, quando analisadas em conjunto, as 15 variantes genéticas que sensibilizam o HDL não reduziram o risco de ataque cardíaco.

"Tem sido assumido que, se um paciente, ou grupo de pacientes, faz algo para elevar seus níveis de HDL, então você pode seguramente assumir que o risco de ataque cardíaco vai cair," disse o coordenador do estudo Sekar Kathiresan. "Este trabalho fundamentalmente questiona isso."

Remédios ineficazes

Cada uma das variantes genéticas que Kathiresan e seus colegas estudaram reflete maneiras potencialmente diferentes que o corpo tem para elevar o nível de HDL.

Os resultados levantam questões importantes sobre se o desenvolvimento de medicamentos contra os genes explorados neste estudo irá revelar-se eficaz na redução do risco de ataque cardíaco na população.

Há uma conexão bem fundamentada entre um LDL elevado - o "colesterol ruim" - e o risco de ataque cardíaco.

Décadas de pesquisas, incluindo estudos de doenças genéticas em seres humanos, além da descoberta do receptor de LDL e seu papel na regulação do colesterol, abriram caminho para o desenvolvimento de drogas conhecidas como estatinas.

Este novo estudo concorda com essas conclusões, confirmando que muitos métodos diferentes de redução dos níveis de LDL de uma pessoa diminuem o risco de doença cardíaca.

Mas os dados sobre o HDL não são tão claros.

Sem prova definitiva

Mais de 30 anos atrás, estudos epidemiológicos revelaram pela primeira vez uma associação entre o HDL e o risco de ataque cardíaco: quanto maior o nível de HDL, menor o risco de ataque cardíaco.

Experimentos em células e em camundongos deram sustentação a essa conclusão, e sugeriram que o HDL é protetor porque ele pode remover colesterol dos locais onde ele pode causar danos.

No entanto, tem sido difícil para os cientistas comprovarem de forma conclusiva que o aumento dos níveis de HDL é benéfico, principalmente por duas razões.

Primeiro, estudos de doenças genéticas humanas onde os indivíduos têm níveis muito baixos de HDL não deram respostas definitivas quanto ao impacto da substância sobre o ataque cardíaco.

E, segundo, como atualmente não há drogas que elevem os níveis de HDL, tem sido difícil provar em humanos que tal intervenção irá diminuir o risco de ataque cardíaco.

Além do bom e do ruim

Kathiresan salienta que estes resultados não diminuem o valor dos níveis de HDL como preditores - é isso que um biomarcador é - capaz de ajudar a estimar a probabilidade de uma pessoa desenvolver ataque cardíaco.

"Nós sabemos que o HDL é um excelente biomarcador - ele é muito útil na identificação de indivíduos com maior risco de sofrer um ataque cardíaco no futuro", disse o cientista.

"Mas nós mostramos que não se pode presumir que a elevação do HDL por qualquer mecanismo que seja ajudará os pacientes. Talvez existem outros mecanismos que possam reduzir o risco, mas vamos ter de continuar procurando por eles," finaliza.

O colesterol, tanto em sua versão "boa" quanto "ruim", tem sido alvo de intensos debates nos últimos meses, em decorrência de uma série de estudos que têm questionado esses rótulos há muito tempo adotados pelos médicos:

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