Se você acha que sabe o que fala, é melhor pensar de novo antes de falar.
O modelo padrão que tenta explicar nossa comunicação estabelece que as pessoas elaboram o que querem dizer em suas mentes, e depois vocalizam o resultado de suas maquinações cerebrais.
Mas parece que não existe algo como "Penso, logo falo".
Andreas Lind e seus colegas da Universidade de Lund (Suécia) demonstraram experimentalmente que, em determinadas situações, o falante só toma consciência do que está dizendo ouvindo a própria voz, ou seja, depois que ele já falou.
No experimento, voluntários foram submetidos ao chamado "Teste de Stroop" - no qual a pessoa vê, por exemplo, a palavra azul impressa em vermelho, e deve dizer o nome da cor (neste caso, vermelho).
Lind então teve uma ideia: ele montou um aparato no qual os voluntários pronunciavam palavras mas, por meio de uma manipulação realizada no laboratório e fones de ouvido, eles ouviam-se dizendo outra coisa - as respostas eram gravadas e depois inseridas nas repetições dos experimentos.
O resultado foi que mais de 60% das manipulações passaram despercebidas e, dessas, 85% foram aceitas pelos voluntários como se tivessem sido produzidas por eles mesmos naquele momento.
Em outras palavras, o voluntário respondia "vermelho", mas ouvia "azul" no fone de ouvido - e garantia ter dito "azul".
Lind explica a lógica: "Se usássemos o feedback auditivo para comparar o que dizemos com uma intenção bem específica, então qualquer incompatibilidade deveria ser detectada rapidamente. Mas, se o feedback é um fator poderoso em um processo interpretativo dinâmico, então a manipulação passa despercebida."
Assim, o conselho popular de que os ouvidos que mais precisam ouvir são aqueles mais próximos da boca que fala é mais significativo do que parece.
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