17/05/2023

Altruístas extremos não são super-heróis; só são menos egoístas

Redação do Diário da Saúde
Altruístas extremos não são super-heróis; só são menos egoístas
A professora Abigail Marsh e seus alunos procurando sinais de personalidade nas imagens do cérebro.
[Imagem: Georgetown University]

Altruístas extremos

Enquanto a quase totalidade das pessoas admira as ações de quem se envolve em atos de altruísmo, como doadores de órgãos, doadores de medula óssea e heróis que resgatam desconhecidos de incêndios ou acidentes, os cientistas ficam perplexos com o que motiva esses altruístas a agir, já que isto contraria as teorias científicas básicas, que falam em "genes egoístas" e "sobrevivência dos mais aptos".

Shawn Rhoads e colegas da Universidade Georgetown (EUA) decidiram abordar essa questão mapeando os perfis psicológicos de uma série de altruístas extremos do mundo real, como salvadores heróicos, trabalhadores humanitários e pessoas que doam órgãos ou medula óssea a estranhos, sem nenhum benefício para si.

"Depois de avaliar mais de 300 altruístas extremos e compará-los com uma coorte de adultos típicos, descobrimos que as pessoas extremamente generosas se distinguem dos adultos típicos por suas características e preferências altruístas. Mas eles não são diferentes de muitas outras maneiras. Eles não são mais agradáveis ou mais conscienciosos, não são insensíveis ao risco em geral e nem mesmo relatam níveis mais altos de empatia.

"Em vez disso, suas escolhas refletem o fato de que eles parecem realmente valorizar o bem-estar de estranhos e o bem-estar de suas comunidades," disse a professora Abigail Marsh, coordenadora da pesquisa.

Altruístas extremos não são super-heróis; só são menos egoístas
Você sabia que o altruísmo e a compaixão podem ser treinados?
[Imagem: Thinkstock/kuarmungadd]

Honestidade e humildade

A bateria de testes revelou que os altruístas extremos têm consistentemente altos níveis de honestidade-humildade, um traço de personalidade definido por um modelo científico de estrutura da personalidade chamado HEXACO - o nome é uma sigla para o termos em inglês para seis dimensões da personalidade chamadas honestidade-humildade, emocionalidade, extroversão, amabilidade, conscienciosidade e abertura à experiência.

Especificamente, o traço de personalidade honestidade-humildade é marcado pela "tendência a ser justo e genuíno no trato com os outros, no sentido de cooperar com os outros mesmo quando se pode explorar os outros sem sofrer retaliação," segundo Kibeom Lee e Michael Ashton, que desenvolveram o modelo HEXACO.

As pessoas que têm altos níveis de honestidade-humildade têm um baixo senso de auto-importância e não estão dispostas a usar, explorar ou prejudicar os outros para benefício próprio.

Altruístas extremos não são super-heróis; só são menos egoístas
Quando se trata de caridade, a bondade parece ser mais importante.
[Imagem: UCR]

Pessoas normais, só que menos egoístas

"De certa forma, parece intuitivo que a característica que realmente distingue os altruístas extraordinários das outras pessoas seja o altruísmo e a valorização do bem-estar dos outros. Mas, na verdade, sabemos que não é intuitivo, porque entrevistamos um segundo grupo de adultos e pedimos que eles previssem quais características distinguiriam os altruístas.

"Curiosamente, eles previram que os altruístas extremos seriam melhores em basicamente todos os aspectos - mais agradáveis, mais conscienciosos, mais abertos e assim por diante. Eles meio que pensam que os altruístas são pessoas perfeitas, até sobre-humanas. Acho que é por isso que você tantas vezes ouve referências aos altruístas com termos sobrenaturais como 'santos' e 'anjos da guarda'.

"Mas eles não são! É muito importante saber que pessoas realmente altruístas têm peculiaridades e defeitos como qualquer outra pessoa. Elas só são genuinamente menos egoístas," concluiu Marsh.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Unselfish traits and social decision-making patterns characterize six populations of real-world extraordinary altruists
Autores: Shawn A. Rhoads, Kruti M. Vekaria, Katherine O’Connell, Hannah S. Elizabeth, David G. Rand, Megan N. Kozak Williams, Abigail A. Marsh
Publicação: Nature Communications
Vol.: 14, Article number: 1807
DOI: 10.1038/s41467-023-37283-5
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