25/09/2018

Depois de 60 anos, cientistas descobrem como talidomida produz defeitos congênitos

Redação do Diário da Saúde
Depois de 60 anos, cientistas descobrem como talidomida produz defeitos congênitos
Esta é a molécula da talidomida, cuja química básica a indústria farmacêutica está usando para o desenvolvimento de novas drogas contra o câncer.
[Imagem: Dana-Farber Cancer Institute]

Evitar novos danos

Mais de 60 anos depois que a talidomida causou defeitos congênitos em milhares de crianças cujas mães tomaram a droga durante a gravidez, cientistas do Instituto do Câncer Dana-Farber, ligado à Universidade de Harvard (EUA), resolveram um mistério que perdura desde que os perigos da droga se tornaram visíveis: Como a talidomida produz um dano fetal tão grave?

A resposta não só ajuda a resolver uma questão que tem sido objeto de curiosidade científica por duas gerações, mas será fundamental à medida que as empresas farmacêuticas começam a desenvolver uma nova geração de medicamentos anticâncer que se baseiam na mesma arquitetura química básica da talidomida.

Os pesquisadores descobriram que a talidomida age promovendo a degradação de uma variedade inesperadamente grande de fatores de transcrição - proteínas celulares que ajudam a ativar ou desativar genes -, incluindo um fator chamado SALL4 (Sal-like protein 4).

A ação da talidomida leva à remoção completa do SALL4 das células. A degradação do SALL4 interfere no desenvolvimento dos membros e em outros aspectos do crescimento fetal.

O resultado é o espectro de complicações indelevelmente ligadas à talidomida: os membros deformados e órgãos defeituosos em crianças cujas mães tomaram talidomida durante a gravidez como um tratamento para o enjoo matinal.

Renascimento da talidomida

Os pesquisadores embasaram suas descobertas no fato de que indivíduos que carregam uma mutação no gene para SALL4 muitas vezes nascem com polegares ausentes, membros subdesenvolvidos, defeitos nos olhos e ouvidos e doenças cardíacas congênitas - problemas similares àqueles de crianças expostas à talidomida no útero.

"As similaridades entre os defeitos congênitos associados à talidomida e aqueles em pessoas com um gene SALL4 mutado são impressionantes. Eles argumentam ainda mais fortemente que a ruptura de SALL4 está na raiz da devastação produzida pela talidomida nos anos 50," disse o professor Eric Fischer, coordenador do estudo, publicado na revista científica eLife.

Na década de 1980, a talidomida ganhou uma segunda vida quando se descobriu que era uma droga antiangiogênica potente, inibindo o crescimento de vasos sanguíneos em tumores. Com isto, ela retornou, com um amplo uso como uma droga contra o câncer, principalmente no tratamento do mieloma múltiplo.

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