23/02/2016

Como lidar com os preços estratosféricos dos medicamentos contra o câncer?

Com informações do HICOR

Remédios e insolvência financeira

Está crescendo o número de pacientes com câncer em estado de insolvência financeira, em parte porque os custos dos medicamentos de combate ao câncer estão subindo rápido demais.

Além disso, muitos desses novos medicamentos apresentam preços muito maiores do que seus benefícios.

Mas não seria possível criar políticas para controlar esses aumentos abusivos de preços e reduzir os custos para os pacientes?

É justamente isso que defende o médico, pesquisador de câncer e economista de saúde Dr. Scott Ramsey, em um editorial publicado na revista médica JAMA Oncology.

"O modelo atual de precificação dos medicamentos contra o câncer não é sustentável e prejudica os pacientes e as famílias, bem como nosso sistema de saúde," diz o editorial.

Agentes do abuso

Para proteger os pacientes com câncer e suas famílias, o Dr. Ramsey propõe três intervenções de políticas públicas, algumas bastante polêmicas, mostrando o quanto a questão é complexa:

  1. as seguradoras de saúde públicas e privadas devem ter a capacidade de negociar preços com os fabricantes;
  2. as seguradoras precisam do poder para negar o fornecimento de medicamentos receitados se os preços dos medicamentos não forem compatíveis com os benefícios à saúde;
  3. deve haver uma maior transparência da precificação dos medicamentos contra o câncer e melhores informações sobre as opções de tratamento.

"É possível adotar soluções que equilibrem melhor o acesso, a viabilidade financeira e os incentivos à inovação, mas, por necessidade, isto irá criar situações onde as drogas de baixo valor [médico] não estarão disponíveis exceto fora do sistema de seguro saúde. Se a sociedade vai aceitar essa 'dor' em troca do ganho de um mercado de medicamentos contra o câncer mais equitativo e sustentável é algo que precisa ser verificado," reconhece o editorial.

De fato, é importante verificar se os órgãos públicos de vigilância teriam como evitar que medidas como a número 2, por exemplo, simplesmente não mudariam os agentes do abuso. E, sobretudo, como a Justiça lidaria com a provável enxurrada de liminares, uma vez que é praxe considerar que a saúde humana é mais importante que as considerações financeiras.

Por outro lado, o grupo não deu atenção ao processo acelerado que as autoridades de saúde vêm adotando para a aprovação desses mesmos medicamentos. Segundo a própria comunidade científica, é questionável a aprovação de medicamentos com benefícios apenas incrementais, o que beneficiaria apenas a indústria farmacêutica, que ainda pode vender essas drogas por qualquer preço.

Riscos financeiros e risco de vida

Eles podem não ter chegada às melhores conclusões, mas Ramsey e seus colegas do Centro Fred Hutchinson de Pesquisas do Câncer (EUA) vêm estudando exaustivamente o impacto financeiro sobre as famílias de um diagnóstico de câncer.

E esses impactos não são apenas financeiros, podendo criar um efeito avalanche sobre a própria saúde.

No mês passado, a mesma equipe publicou no Journal of Clinical Oncology uma análise que mostra que pacientes com câncer que entram em dificuldades financeiras para arcar com o tratamento têm um risco significativamente maior de morrer do que aqueles com menores dificuldades financeiras.

Em alguns tipos de câncer, o risco mais do que duplica.

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