Religião e tratamentos médicos
Para pessoas com uma fé muito tenaz, as crenças religiosas e os tabus culturais associados podem ter um forte impacto sobre como elas cuidam de sua saúde, incluindo os tratamentos médicos que elas aceitam.
Um novo estudo feito nos Estados Unidos demonstra que esta questão começa a impactar até mesmo o trabalho dos oftalmologistas, mostrando uma crescente necessidade de informações mais seguras sobre a interação das crenças religiosas e sua adequação aos tratamentos normalmente prescritos pelos médicos.
Tratamento do glaucoma
A eficácia do tratamento do glaucoma, em particular, freqüentemente depende da capacidade e da boa-vontade do paciente para auto-administrar medicamentos em gotas nos olhos numa base constante e regular ao longo de meses e até anos.
Os pacientes de glaucoma normalmente não percebem sintomas nos estágios iniciais da doença, o que impõe grandes desafios para os médicos na motivação dos pacientes para se adequarem aos esquemas de tratamento. Se o paciente negligencia o tratamento até a sua visão declinar de forma perceptível, o dano é freqüentemente irreversível.
Jejuns religiosos
Muitas das práticas religiosas ao redor do mundo contêm jejuns voluntários ou obrigatórios - a abstenção de comida e às vezes também de líquidos - durante períodos que podem durar de uns poucos dias até mais do que um mês, em uma base anual.
Os pesquisadores, coordenados por Nishant Kumar, do Hospital Universitário de Liverpool, na Inglaterra, estudaram a submissão dos pacientes em relação aos jejuns analisando 350 pesquisas feitas com membros das principais religiões do mundo: Islamismo, Hinduísmo, Jainismo, Cristianismo, Judaísmo, Bahai e Budismo, sendo 50 pesquisas por religião. Este é o primeiro estudo desse tipo já feito.
Dados populacionais mostram que aproximadamente 20% da população mundial é formada por muçulmanos e 15% por hindus; o jejum é importante nas duas religiões. Ele é obrigatório durante o dia no mês do Ramadã para os muçulmanos; para os hindus normalmente o jejum é voluntário.
Sem comida e sem remédio...
A equipe do Dr. Kumar havia pesquisado anteriormente os pacientes muçulmanos sobre o uso dos colírios durante o mês do Ramadã e verificou que a obediência ao tratamento reduziu-se significativamente entre os pacientes que jejuavam. Se os pacientes reduzirem ou pararem seu tratamento contra o glaucoma durante um período tão longo, tal como o mês do Ramadã ou outros períodos contínuos de jejum, sua visão pode ser seriamente afetada.
Na nova pesquisa, a maioria dos pacientes auto-identificados como hindus, muçulmanos e jainis, afirmam que o uso das gotas nos olhos durante as horas de jejuar iria quebrar seu jejum e, desta forma, eles não usam o colírio durante as horas do jejum.
...desde que não esteja doendo
Entretanto, esses grupos de pacientes afirmam que eles estariam mais propensos a usar os colírios no caso de condições dolorosas dos olhos ou se sua visão estivesse afetada.
A maioria dos cristãos, budistas, bahai e judeus que responderam a pesquisa não acreditam que o uso das gotas vá quebrar seus jejuns, e afirmaram que eles usariam os medicamentos em gotas durante seus períodos de jejum.
Os médicos e as religiões
"Uma maior conscientização entre os oftalmologistas com relação às crenças religiosas dos pacientes que eles tratam irá lhes permitir formular planos de gerenciamento para lidar com essas crenças sem comprometer os cuidados médicos," conclui o Dr. Kumar.
Segundo ele, especialidades médicas como hematologia, neurologia, endocrinologia e o tratamento do diabetes têm aberto o caminho no desenvolvimento dessas estratégias que permitem que os médicos lidem melhor com as crenças religiosas de seus pacientes.
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