13/07/2021

Ensaio clínico com pacientes virtuais reproduz resultados de ensaio real

Redação do Diário da Saúde
Ensaio clínico in-silico
Todo o teste do desviador de fluxo foi feito virtualmente, chegando a resultados similares aos testes feitos em humanos.
[Imagem: University of Leeds]

Ensaios in-silico

Um estudo envolvendo pacientes virtuais - em vez de pacientes reais - mostrou-se tão eficaz quanto os ensaios clínicos tradicionais na avaliação de um dispositivo médico usado para tratar aneurismas cerebrais.

Esta é uma prova de conceito dos chamados ensaios in-silico, onde, em vez de recrutar pessoas para um ensaio clínico da vida real, os pesquisadores constroem simulações digitais de grupos de pacientes, vagamente semelhantes à forma como as populações virtuais são construídas no jogo de computador The Sims.

Hoje os experimentos são realizados in vitro (sobre placas de Petri ou em tubos de ensaio) e in vivo (em cobaias ou em humanos). O nome dos ensaios in-silico referem-se ao silício, o material usado para construir os processadores de computador, já que tudo é feito digitalmente.

Os ensaios in-silico podem revolucionar a forma como os ensaios clínicos são conduzidos, reduzindo o tempo e os custos de desenvolvimento de novos medicamentos e dispositivos médicos, ao mesmo tempo reduzindo eventuais danos humanos e a morte de animais nos testes.

As populações virtuais de pacientes são desenvolvidas a partir de bancos de dados clínicos, para refletir idade, sexo e etnia, além de simular a forma como a doença afeta o corpo humano - por exemplo, as interações entre anatomia, física, fisiologia e bioquímica do sangue.

Essas simulações são então usadas para modelar o impacto de terapias, intervenções, medicamentos e dispositivos em desenvolvimento.

Ensaio clínico virtual

Ali Foroushani e seus colegas da Universidade de Leeds (Reino Unido) queriam saber se um ensaio in-silico poderia replicar os resultados de três ensaios clínicos reais, que foram feitos com pacientes humanos para avaliar a eficácia de um dispositivo chamado "desviador de fluxo", usado no tratamento de aneurismas cerebrais, uma doença em que a parede de um vaso sanguíneo enfraquece e começa a inchar.

Os pesquisadores construíram uma população virtual usando dados reais de pacientes extraídos de bancos de dados clínicos, garantindo que os pacientes virtuais anônimos se parecessem muito com os pacientes reais usados nos ensaios clínicos com desviadores de fluxo - isso incluiu tanto características como idade e sexo, como também as características do aneurisma.

Os três ensaios clínicos tradicionais (chamados PUFS, PREMIER e ASPIRe) tiveram 109, 141 e 207 pacientes, respectivamente. O ensaio in-silico usou 82 casos virtuais.

Os resultados do ensaio in-silico previram que 82,9% dos pacientes virtuais com pressão arterial normal seriam tratados com sucesso com o desviador de fluxo.

Nos ensaios clínicos tradicionais, o número de pessoas que foram tratadas com sucesso foi de 86,8% (PUFS), 74,8% (PREMIER) e 76,8% (ASPIRe), evidenciando que o ensaio in-silico replicou os resultados dos ensaios clínicos tradicionais.

"A abordagem atual para melhorar nossa compreensão de novos dispositivos médicos é lenta, uma vez que os testes convencionais podem facilmente levar de cinco a oito anos, desde seu projeto até a conclusão. Os testes in-silico podem reduzir esse período para menos de seis meses em algumas circunstâncias, tornando o conhecimento e as tecnologias terapêuticas mais seguras e prontamente disponíveis para médicos e pacientes," disse o professor Alex Frangi, coordenador do ensaio clínico virtual.

Checagem com artigo científico:

Artigo: In-silico trial of intracranial flow diverters replicates and expands insights from conventional clinical trials
Autores: Ali Sarrami-Foroushani, Toni Lassila, Michael MacRaild, Joshua Asquith, Kit C. B. Roes, James V. Byrne, Alejandro F. Frangi
Publicação: Nature Communications
DOI: 10.1038/s41467-021-23998-w
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