Reconhecimento
Três cientistas que contribuíram para melhorar o tratamento de doenças consideradas negligenciadas e que afetam as populações mais carentes do mundo foram agraciados com o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2015.
Youyou Tu, da Academia Chinesa de Medicina Tradicional, em Pequim, receberá metade do prêmio pelo isolamento da artemisinina, ainda hoje considerada a droga mais potente contra a malária.
William Campbell e Satoshi Omura dividirão a outra metade pela descoberta de uma classe de drogas - a avermectina - cujos derivados se mostraram capazes de matar parasitas causadores da filariose linfática (elefantíase) e da oncocercose (cegueira do rio).
Quimioterapia antiparasitária
Na avaliação de pesquisadores e especialistas, o reconhecimento pode ajudar a impulsionar pesquisas em duas áreas nas quais o Brasil se destaca mundialmente: doenças negligenciadas e química de produtos naturais.
"Essas descobertas ressaltam o grande potencial da utilização de moléculas de origem natural em quimioterapia antiparasitária. O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta e precisa começar a explorá-la em bioprospecção de forma mais sistemática," avaliou Lúcio Freitas Júnior, pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
Para Lúcio, a premiação é consequência de um esforço mundial que tem sido feito no sentido de aumentar o conhecimento sobre a realidade das doenças tropicais, que são graves, afetam grande parte da população mundial e para as quais não há terapias satisfatórias na maior parte dos casos.
Verminoses e malária
"As verminoses estão entre as doenças mais prevalentes no mundo e são causadoras de grande morbidade, principalmente em crianças. A descoberta da avermectina e de seus derivados proporcionou um grande avanço no controle, por serem mais eficazes e menos tóxicos do que as drogas usadas anteriormente. No caso da malária, a descoberta da artemisinina trouxe grande esperança no tratamento. Diversos locais apresentavam uma grande incidência de casos resistentes às drogas existentes até então", disse Lúcio.
"O impacto da artemisinina foi enorme. A droga ainda é o melhor tratamento disponível. Ainda que haja resistência em partes da Ásia, as terapias combinadas com base na artemisinina (ACTs) salvam vidas diariamente na África, na Amazônia e em outras áreas endêmicas. Sem ACT a mortalidade por malária seria extremamente alta e os avanços alcançados no combate à doença até o momento não teriam sido possíveis", disse Márcia Castro, professora da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos.
Para Márcia, o prêmio pode servir de estímulo para a busca contínua de novas drogas, o que a pesquisadora considera de "extrema importância", considerando a ameaça crescente de resistência aos medicamentos atuais.
Saúde global
"Hoje se disseminou a ideia de saúde global. O mundo descobriu que é impossível ignorar os problemas de saúde dos países mais pobres, pois de certo modo todos estão potencialmente expostos a eles, seja pelo turismo ou migrações", opinou Marcelo Urbano Ferreira, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
"Acho muito positivo o fato de que o conceito de saúde global tenha progressivamente substituído a velha ideia de medicina tropical. Um mundo só é saudável quando todas as populações, de todas as partes do globo, têm acesso aos meios mais modernos e eficientes para diagnosticar, tratar e prevenir as doenças a que estão expostas", acrescentou Ferreira.
Segundo André Tempone, coordenador do Laboratório de Novos Fármacos - Doenças Negligenciadas do Instituto Adolfo Lutz, a química de produtos naturais e as doenças negligenciadas são duas áreas fortes da pesquisa brasileira e a premiação deve contribuir para atrair a atenção mundial para esses temas e impulsionar novas descobertas.
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