30/07/2019

Inteligência artificial para detectar emoções não tem base científica, alertam especialistas

Redação do Diário da Saúde
Programas que detectam emoções não têm base científica
O problema não é apenas que os programas que detectam emoções falham: a própria inteligência artificial desenvolve seus preconceitos.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Inteligência psicológica

Programas de computador e aplicativos que supostamente leem emoções em rostos estão sendo implantados ou testados para uma variedade de propósitos, incluindo vigilância, contratação de funcionários, diagnóstico clínico e pesquisas de mercado.

Mas uma revisão sistemática de todos os estudos científicos sobre este tema revela que os movimentos faciais são um indicador inexato dos sentimentos, dos comportamentos ou das intenções de uma pessoa. Em outras palavras, não é cientificamente válido aferir comportamentos e personalidades a partir dessas análises de imagem baseadas em inteligência artificial e aprendizado de máquina.

"Não é possível inferir de forma confiável a felicidade a partir de um sorriso, a raiva de uma careta ou a tristeza de uma face carrancuda, como a tecnologia atual tem tentado fazer quando aplica o que erroneamente acredita serem fatos científicos," escreve o grupo em seu relatório, publicado na revista da Associação para Ciência Psicológica (EUA).

Reunindo especialistas renomados em psicologia, neurociência e ciência da computação, o grupo é composto por Lisa Feldman Barrett (Universidade do Nordeste dos EUA), Ralph Adolphs (Instituto de Tecnologia da Califórnia), Stacy Marsella (Universidade de Glasgow), Aleix Martinez (Universidade Estadual de Ohio) e Seth Pollak (Universidade de Wisconsin-Madison).

Emoções na vida real

Os autores observam que o público em geral e alguns cientistas acreditam que existam expressões faciais únicas que indicam com segurança seis categorias de emoção: raiva, tristeza, felicidade, repulsa, medo e surpresa.

Mas, ao revisar mais de 1.000 resultados publicados sobre movimentos faciais e emoções, eles constataram que a forma como esses estudos científicos são tipicamente projetados não captura as diferenças da vida real na maneira como as pessoas transmitem e interpretam as emoções em seus rostos. Uma carranca ou um sorriso podem expressar mais de uma emoção dependendo da situação, do indivíduo ou da cultura, dizem eles.

"As pessoas fazem cara feia quando estão com raiva, em média, em aproximadamente 25% das vezes, mas movem seus rostos de outras maneiras significativas quando estão com raiva," explica Barrett. "Eles podem chorar ou sorrir, ou arregalar os olhos e ofegar. E eles também fazem cara feia quando não estão com raiva, como quando estão se concentrando ou quando estão com dor de estômago. Da mesma forma, a maioria dos sorrisos não implica que uma pessoa está feliz e, na maioria das vezes, as pessoas que estão felizes fazem alguma outra coisa que não sorrir."

Movimento facial não é o mesmo que emoção

Agências de aplicação da lei nos Estados Unidos e na Europa já estão experimentando tecnologias projetadas para automatizar a detecção de emoções através de exames faciais. Algumas empresas estão usando softwares para rastrear os movimentos faciais de candidatos a emprego durante as entrevistas.

Essa tecnologia pode ser capaz de detectar movimentos faciais, mas não detecta o significado psicológico desses movimentos faciais, dizem Barrett e seus colegas.

"Achamos que essa era uma questão especialmente importante para trabalhar devido à maneira como as chamadas 'expressões faciais' estão sendo usadas na indústria, nos ambientes educacional e médico e na segurança nacional," conclui a equipe.

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