11/12/2025

Como separamos as palavras que ouvimos se não falamos espaços?

Redação do Diário da Saúde
Como separamos as palavras que ouvimos se não falamas
Representação do cérebro destacando o giro temporal superior (em azul), que nos ajuda a compreender a linguagem falada.
[Imagem: Chang Lab/Stamen Design]

Palavras sem espaços

Por que é tão fácil ouvir as palavras individuais em sua língua nativa, mas, ao ouvir alguém falando em uma língua estrangeira, as palavras se juntam em um longo fluxo de som?

Ao contrário de quando escrevemos, quando falamos naturalmente não fazemos pausas para representar os "espaços" entre as palavras, e mesmo assim nós as percebemos individualmente sem esforço. Há anos, os cientistas presumem que áreas do cérebro responsáveis por dar significado à fala determinam os limites entre as palavras.

Ilina Bhaya-Grossman e colegas da Universidade da Califórnia de São Francisco descobriram que a coisa não é tão simples. Em dois estudos complementares, a equipe descobriu como o cérebro aprende os padrões sonoros de uma língua até reconhecer onde uma palavra termina e a próxima começa.

Em relação aos estudos feitos até hoje, a equipe se concentrou em uma região diferente do cérebro, chamada giro temporal superior, ou GTS. Até agora, os cientistas acreditavam que o GTS lidava apenas com o processamento simples de sons, como a identificação de consoantes e vogais.

Mas os novos experimentos revelaram que o GTS contém neurônios que aprendem a rastrear onde as palavras começam e terminam ao longo de anos de experiência auditiva em um idioma.

"Isso demonstra que o GTS não apenas ouve sons, mas usa a experiência para identificar palavras enquanto elas são faladas," disse o professor Edward Chang. "Este trabalho nos fornece um modelo neural de como o cérebro transforma o som contínuo em unidades significativas."

Neurônios que mostram os espaços

Os participantes ouviram frases em inglês, espanhol e mandarim, idiomas que eram familiares para alguns e desconhecidos para outros - oito voluntários eram bilíngues, mas ninguém falava os três idiomas.

Os pesquisadores usaram modelos de aprendizado de máquina para analisar os padrões neurais e descobriram que, quando os participantes ouviam sua língua nativa ou um idioma que conheciam, os neurônios especializados no giro temporal superior eram ativados. Mas, quando os participantes ouviam um idioma que não conheciam, os neurônios não eram ativados.

"Isso explica um pouco da magia que nos permite entender o que alguém está dizendo," disse Ilina.

Uma vez que falantes fluentes proferem várias palavras por segundo, esses neurônios precisam se reconfigurar rapidamente para registrar a próxima palavra. "É como uma espécie de reinicialização, em que o cérebro processa uma palavra que reconhece e, em seguida, se reconfigura para poder começar a processar a próxima palavra," detalhou Matthew Leonard, membro da equipe.

Esta descoberta também ajuda a esclarecer alguns casos muito especiais, quando lesões em certas regiões do cérebro prejudicam a capacidade de compreender a fala, mesmo quando a audição da pessoa está intacta.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Shared and language-specific phonological processing in the human temporal lobe
Autores: Ilina Bhaya-Grossman, Matthew K. Leonard, Yizhen Zhang, Laura Gwilliams, Keith Johnson, Junfeng Lu, Edward F. Chang
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-025-09748-8
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