24/07/2018

Questionada mais uma teoria sobre a doença de Parkinson

Redação do Diário da Saúde
Questionada mais uma teoria sobre a doença de Parkinson
É a primeira vez que se vê a estrutura da alfa-sinucleína em detalhes com resolução atômica.
[Imagem: Ricardo Guerrero-Ferreira et al. - 10.7554/eLife.36402]

Morte das teorias

Acaba de ruir mais uma teoria que tenta explicar os mecanismos da doença de Parkinson.

Descrita pela primeira vez pelo Dr. James Parkinson há mais de 200 anos, as causas exatas dessa doença neurodegenerativa ainda são desconhecidas, o que tem inviabilizado todas as tentativas de criar medicamentos para lidar com ela.

Tudo o que temos hoje são teorias - e não muito boas, a exemplo do que também se tem visto com o Alzheimer, com as crescentes dúvidas sobre a chamada "hipótese amiloide".

A equipe dos professores Ricardo Guerrero Ferreira e Henning Stahlberg, da Universidade da Basileia (Suíça), acaba de colocar em xeque justamente a teoria científica mais aceita sobre os mecanismos que levariam à doença de Parkinson.

Alfa-sinucleína

Nos pacientes com Parkinson, as células nervosas produtoras de dopamina no cérebro morrem lentamente. Isso resulta em uma falta deste neurotransmissor, prejudicando a função motora e, frequentemente, também as habilidades cognitivas.

Os cientistas têm assumido que a proteína alfa-sinucleína é um dos fatores desencadeantes da morte dos neurônios de dopamina porque essa proteína pode se aglomerar e formar pequenas agulhas, chamadas de fibrilas, que se acumulam e se depositam nos chamados "corpos de Lewy" nas células nervosas. Essas fibrilas tóxicas danificam as células cerebrais produtoras de dopamina.

Para confirmar isto, a equipe produziu artificialmente uma fibrila alfa-sinucleína em um tubo de ensaio, o que permitiu visualizar pela primeira vez sua estrutura tridimensional com resolução atômica.

"Contrariamente às nossas expectativas, os resultados parecem levantar mais questões do que poderíamos esperar responder," disse Stahlberg.

Fibrilas

Algumas formas congênitas da doença de Parkinson afetam pessoas que possuem "defeitos" no gene da alfa-sinucleína. Suspeitava-se que essas mutações eventualmente fizessem com que a proteína se dobrasse incorretamente, formando assim as perigosas fibrilas.

"No entanto, a nossa estrutura 3D revela que uma proteína alfa-sinucleína mutante não deve ser capaz de formar este tipo de fibrila," explica Stahlberg. "Por causa de sua localização, a maioria dessas mutações vai na verdade dificultar a formação da estrutura da fibrila."

Em resumo, se a estrutura da fibrila causasse a doença de Parkinson, o defeito genético teria que proteger contra a doença. Mas não é isto o que ocorre. Assim, pode ser que um tipo diferente de fibrila, ou outra forma da proteína, desencadeie a doença nesses pacientes.

Mais investigações agora serão necessárias para entender essa estrutura das fibrilas. Na verdade, a função fisiológica exata da alfa-sinucleína ainda é desconhecida, o que só nos deixa com perguntas: Quais são os efeitos das mutações da alfa-sinucleína? Elas geram formas distintas de agregados proteicos? Qual é o papel das fibrilas para as células nervosas e por que essas células morrem?

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