Do câncer ao diabetes
Avanços científicos no diagnóstico e tratamento de uma doença tipicamente são resultados muito específicos, não sendo incomuns situações em que os avanços são aplicáveis a apenas determinadas variações da doença ou a determinados perfis de pacientes.
Por isso foi uma surpresa quando Justin Choe e colegas da Clínica Mayo (EUA) estavam pesquisando o câncer e acabaram beneficiando o tratamento de uma outra doença totalmente não relacionada, o diabetes.
Depois de identificar uma molécula de açúcar que as células cancerígenas usam em suas superfícies para se esconder do sistema imunológico, os pesquisadores descobriram que a mesma molécula pode ajudar no tratamento do diabetes tipo 1, também conhecido como diabetes juvenil, uma condição autoimune crônica na qual o sistema imunológico ataca erroneamente as células beta pancreáticas que produzem insulina.
Para conseguir uma transição tão grande dos seus resultados, os pesquisadores na verdade pegaram o mecanismo relacionado ao câncer e o inverteram. As células cancerígenas utilizam uma variedade de métodos para escapar da resposta imunológica, incluindo o revestimento de uma molécula de açúcar conhecida como ácido siálico. O que a equipe descobriu é que é possível revestir as células beta pancreáticas com a mesma molécula de açúcar, permitindo que o sistema imunológico as tolere.
"Nossas descobertas mostram que é possível desenvolver células beta que não induzem uma resposta imune," disse a Dra Virginia Shapiro, coordenadora do estudo.
Açúcar contra diabetes
Primeiro, a equipe descobriu que uma enzima, conhecida como ST8Sia6, que aumenta o ácido siálico na superfície das células tumorais, faz com que elas não pareçam entidades estranhas a serem atacadas pelo sistema imunológico.
"A expressão dessa enzima basicamente 'reveste' as células cancerígenas com açúcar e pode ajudar a proteger uma célula anormal de uma resposta imune normal. Nos perguntamos se a mesma enzima também poderia proteger uma célula normal de uma resposta imune anormal," disse Shapiro.
A equipe estabeleceu inicialmente a prova de conceito em um modelo de diabetes induzido artificialmente. Eles então sintetizaram células beta modificadas para produzir a enzima ST8Sia6.
E deu certo. As células modificadas foram 90% eficazes na prevenção do desenvolvimento do diabetes tipo 1. As células beta, que normalmente são destruídas pelo sistema imunológico no diabetes tipo 1, foram preservadas.
"Um objetivo seria fornecer células transplantáveis sem a necessidade de imunossupressão," disse Shapiro. "Embora ainda estejamos nos estágios iniciais, este estudo pode ser um passo para melhorar o tratamento do diabetes."
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