29/07/2008

Alterações no olfato são indicadores do Mal de Parkinson

Arley Reis
Alterações no olfato são indicadores do Mal de Parkinson
Imagem ilustra perda de neurônios induzida pela toxina MPTP
[Imagem: UFSC/Agecom]

Sintomas do Mal de Parkinson

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está construindo conhecimento básico para diagnóstico precoce da doença de Parkinson. Nesta semana, o professor Rui D.S. Prediger, do Departamento de Farmacologia, apresenta nos Estados Unidos resultados de estudos que confirmam uma hipótese importante para a descoberta da doença antes do aparecimento de seus sintomas clássicos, os tremores musculares. A partir de modelos animais, a equipe da UFSC demonstrou que prejuízos no olfato, e também cognitivos, precedem os problemas motores provocados pela doença.

O risco está no ar

Os resultados obtidos na UFSC serão apresentados no International Symposium on Olfaction & Taste (ISOT), que será realizado, em São Francisco, Califórnia, EUA. O trabalho tem o título O risco está no ar: administração intranasal de MPTP em roedores reproduz características clínicas da doença de Parkinson. A pesquisa indica que no futuro testes olfatórios poderão ser utilizados para o diagnóstico precoce dessa enfermidade que ainda é considerada incurável - e quanto mais cedo é descoberta, mais chances há de amenizar o sofrimento que causa.

Decifrando o Mal de Parkinson

O Parkinson é causado pela destruição dos neurônios que produzem o neurotransmissor dopamina. Essa substância ajuda a transmitir mensagens relacionadas ao movimento dos músculos, garantindo precisão e equilíbrio nas ações. Um dos problemas para seu diagnóstico é que os tremores só aparecem quando a doença já está em fase bastante avançada.

No Departamento de Farmacologia da UFSC, pesquisas foram realizadas a partir da observação de modelos animais em que ratos foram tratados com a neurotoxina MPTP via intranasal. Os estudos mostraram que essa toxina não fica restrita à área olfativa, mas migra para o cérebro e causa lesões em neurônios. O modelo animal permitiu também que o grupo observasse a sequëncia do avanço da doença.

Perda do olfato

A pesquisa mostrou que primeiro os animais perderam a capacidade de diferenciar odores. Depois, apareceram problemas para aprender e executar tarefas, numa visível perda cognitiva. Somente mais tarde apareceram os problemas motores.

"Nos experimentos os animais desenvolveram prejuízos olfatórios, cognitivos e motores muito semelhantes aos observados na doença de Parkinson. Além disso, apresentaram alterações neuroquímicas semelhantes aquelas observadas no cérebro de pacientes portadores da doença, como a degeneração de neurônios dopaminérgicos e redução de dopamina em diferentes áreas cerebrais", explica Rui, pesquisador do Laboratório Experimental em Doenças Neurodegenerativas da UFSC.

De acordo com o professor, os estudos relacionando problemas de olfato à enfermidade vêm sendo realizados pois embora a causa primária da doença Parkinson permaneça desconhecida, estudos epidemiológicos têm indicado que a sua incidência pode estar associada à exposição a certas toxinas ambientais, como pesticidas e herbicidas. ?Os resultados reforçam a hipótese de que o sistema olfatório pode representar uma porta de entrada para neurotoxinas envolvidas com a etiologia da doença de Parkinson", destaca o pesquisador.

Diagnóstico precoce

"Além disso, o avanço temporal dos sintomas olfatórios, cognitivos e motores observados nos animais tratados com MPTP pela via intranasal sugerem que este representa um novo e útil modelo para o estudo do processo neurodegenerativo associado à doença, assim como para a avaliação de novas alternativas terapêuticas", complementa o pesquisador.

Os estudos levam em conta que tão importante quanto o tratamento, é o diagnóstico precoce. Ao mesmo tempo, dissecando o funcionamento da doença, as pesquisas realizadas na UFSC são um caminho para buscar formas de bloquear o seu avanço. Os trabalhos neste campo têm sido desenvolvidos com apoio financeiro do CNPq, da CAPES e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

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