03/10/2025

Apelos morais dão mais resultado que críticas nos comentários online

Redação do Diário da Saúde
Apelos morais dão mais resultado que críticas nos comentários online
Mas atenção: Se a comunidade perceber o ofensor como moralmente "incorrigível", a conclusão é outra.
[Imagem: Diário da Saúde/Gerado por IA]

Apelo à justiça nos comentários

Em um ambiente digital frequentemente marcado pela hostilidade, comentários que buscam a reconciliação e um pedido de desculpas são percebidos como mais justos e recebem maior apoio da comunidade do que aqueles que apenas atacam e culpam o autor de um comentário inadequado.

Esta é a principal conclusão de dois estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA), que analisaram a dinâmica das objeções nas redes sociais.

A pesquisa descobriu que, embora os ataques contra a pessoa sejam a tática mais comum, as abordagens pró-sociais são realmente mais eficazes.

O problema em questão é a falta de civilidade nos comentários online. Com as pessoas cada vez mais isoladas em suas bolhas de informação e as mídias sociais sendo um campo fértil para debates, as seções de comentários frequentemente se transformam em verdadeiros campos de batalha, onde a conversa se deteriora rapidamente, com os argumentos sendo substituídos por ataques pessoais. E os comentários são importantes porque o modo como são escritos pode influenciar a percepção dos demais leitores sobre a notícia original e até mesmo sobre a credibilidade do veículo de comunicação.

Para entender a dinâmica desses debates, os pesquisadores analisaram mais de 8.500 respostas a comentários em vídeos de notícias no YouTube e no X. Eles identificaram sete estratégias distintas que as pessoas usam para expressar sua objeção.

"Dentro desse universo de objeções, os ataques ad hominem [à pessoa] são claramente a maior porcentagem de táticas empregadas," explicou a pesquisadora Ashley Shea. "Mas também vimos estratégias que eram pró-sociais, como o uso da lógica ou apelos morais." Cerca de 10% dos comentários foram identificados como "objeções discursivas", ou seja, uma tentativa de restringir a forma como os outros se expressam. Dentre essas objeções, os ataques à reputação da pessoa foram os mais comuns.

Mel ou vinagre nos comentários?

Isso levou à segunda fase do estudo: Testar a eficácia de duas estratégias, os dois tipos mais comuns de comentários de objeção:

  • Vigilância retributiva: Foca em punir, envergonhar e expor o ofensor (o que os cientistas chamam de "vinagre").
  • Apelos à justiça restaurativa: Encoraja o ofensor a refletir, pedir desculpas e reparar o dano (o que os cientistas chamam de o "mel" nos comentários).

Os resultados foram claros: Os comentários de "justiça restaurativa" foram vistos como mais eficazes para alcançar justiça, geraram maior satisfação na comunidade e receberam mais apoio, na forma de votos positivos, e menos rejeição (votos negativos).

Essas descobertas mostram que, embora a agressividade seja uma resposta comum, a estratégia de apelar para valores morais ou para o pedido de desculpas pode ser uma forma mais eficaz de promover a justiça e o engajamento positivo. Em vez de uma luta por poder e controle, essa abordagem pode transformar as seções de comentários em espaços onde a conversa é mais produtiva.

Os pesquisadores alertam, porém, para uma ressalva crucial: Se a comunidade perceber o ofensor como moralmente "incorrigível" - ou seja, incapaz de mudar -, a vigilância retributiva passa a ser vista como a abordagem mais favorável. "Se as pessoas acham que o ofensor não pode mudar seu comportamento futuro, apelar para seus valores morais não funciona. Então, elas recorrem à punição," explicou Pengfei Zhao, autor do segundo estudo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Beyond ad hominem attacks: A typology of the discursive tactics used when objecting to news commentary on social media
Autores: Ashley L. Shea, Aspen K. B. Omapang, Ji Yong Cho, Miryam Y. Ginsparg, Natalie N. Bazarova, Winice Hui, René F. Kizilcec, Chau Tong, Drew B. Margolin
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0328550

Artigo: Restorative justice appeals trump retributive vigilance on social media
Autores: Pengfei Zhao, Natalie N Bazarova, Inhwan Bae, Winice Hui, René F Kizilcec, Drew Margolin
Publicação: PNAS Nexus
DOI: 10.1093/pnasnexus/pgaf255
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