Cérebro adulto mostra plasticidade inesperada e recupera visão

A pesquisa abre novos caminhos para lidar com a capacidade do cérebro de se recuperar.
[Imagem: Carey Y.L. Huh et al. - 10.1016/j.cub.2022.09.005]

Plasticidade cerebral adulta

Médicos descobriram que o cérebro adulto tem o potencial de se recuperar - ao menos parcialmente - de um tipo de cegueira hereditária.

Isso traz esperanças para esses pacientes, que já nascem com a deficiência, uma vez que a equipe conseguiu demonstrar os mecanismos pelos quais alguns adultos com essa deficiência visual grave podem começar a ver. Além disso, os resultados dão uma nova visão da chamada plasticidade cerebral, uma capacidade ainda não totalmente compreendida de como nosso cérebro pode se recuperar de lesões ou se adaptar a novas situações.

A Dra Carey Huh e seus colegas da Universidade da Califórnia em Irvine estavam examinando o tratamento para amaurose congênita de Leber (ACL). O termo refere-se a um grupo de doenças hereditárias da retina, marcadas por deficiências visuais graves já no nascimento.

A condição, que surge devido a mutações em qualquer um de um grupo de mais de duas dúzias de genes, causa degeneração ou disfunção nos fotorreceptores da retina.

A administração de compostos químicos, chamados retinoides sintéticos, pode restaurar uma quantidade notável de visão em crianças com ACL. A equipe queria descobrir se o tratamento poderia fazer alguma diferença para adultos que têm a doença.

E eles ficaram surpresos com o que descobriram: A sinalização da via visual central foi significativamente restaurada nos adultos testados, especialmente os circuitos que lidam com informações provenientes de ambos os olhos.

"Francamente, ficamos impressionados com o quanto o tratamento resgatou circuitos cerebrais envolvidos na visão," disse o Dr. Sunil Gandhi, membro da equipe. "Enxergar envolve mais do que retinas intactas e funcionais. Tudo começa no olho, que envia sinais por todo o cérebro. É nos circuitos centrais do cérebro que a percepção visual realmente surge."

Novo paradigma

Até agora, os cientistas acreditavam que os circuitos cerebrais só conseguiriam se conectar corretamente se o tratamento fosse aplicado na infância, antes da maturação do desenvolvimento cerebral.

Esta descoberta abre novas possibilidades de pesquisa.

"Sempre que você tem uma descoberta que rompe com suas expectativas sobre a possibilidade de o cérebro se adaptar e religar, isso lhe ensina um conceito mais amplo," disse Gandhi. "Este novo paradigma pode ajudar no desenvolvimento de terapias com retinoides para resgatar mais completamente a via visual central de adultos com essa condição."