21/05/2013

Dicionário de crianças colombianas surpreende pela sabedoria

Com informações da BBC
Dicionário de crianças colombianas surpreende pela sabedoria
O professor Javier Naranjo diz que o respeito à voz das crianças também é parte do sucesso do livro.
[Imagem: BBC]

  1. Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
  2. Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)
  3. Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
  4. Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos (Luis Alberto Ortiz, 8 anos)
  5. Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
  6. Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
  7. Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
  8. Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)
  9. Guerra:Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
  10. Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
  11. Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
  12. Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
  13. Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)
  14. Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
  15. Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
  16. Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
  17. Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
  18. Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
  19. Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)

Estas definições, cheias de poesia e sabedoria, impressionam pela pouca idade de seus autores.

Elas fazem parte do dicionário "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", uma obra que surpreendeu ao se tornar o maior sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, no final do mês de abril.

"Isso me faz pensar que o livro continua revelando, continua falando sobre as pequenas coisas", disse Javier Naranjo, o professor que compilou as definições feitas por crianças colombianas.

"Eles têm uma lógica diferente, outra maneira de entender o mundo, outra maneira de habitar a realidade e de nos revelar muitas coisas que esquecemos", diz.

Jogos de palavras e ideias

As definições - quase 500, para um total de 133 palavras diferentes - foram compiladas durante um período "entre oito e dez anos", enquanto Naranjo trabalhava como professor em diversas escolas rurais do Estado de Antioquía, no leste do país.

"Na criação literária fazíamos jogos de palavras, inventávamos histórias. E a gênese do livro é um dos exercícios que fazíamos", conta ele, que agora é diretor da biblioteca e centro comunitário rural Laboratório do Espírito.

Ele diz que teve a ideia de pedir aos alunos uma definição do que era uma criança, em uma comemoração do dia das crianças.

"Me lembro de uma definição que era: 'uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir mais cedo'. Eu adorei, me pareceu perfeita," conta.

"As crianças escolheram algumas palavras e eu também: palavras que me interessavam, sobre as quais eu me perguntava. Mas não fugi de nenhuma," afirma Naranjo.

Voz das crianças

Para a publicação, Naranjo apenas corrigiu a pontuação e a ortografia das definições escolhidas, mas afirma não ter tirado nenhuma das palavras por "questões ideológicas".

Por isso, o livro mantém a voz das crianças, com suas formas de explicar as coisas e construções gramaticais particulares. Bianca Yuli Henao, de 10 anos, define tranquilidade como "por exemplo quando seu pai diz que vai te bater e depois diz que não vai".

O ex-professor diz que o respeito à voz das crianças também é parte do sucesso do livro, que foi reeditado em 2005 e 2009 e inspirou obras semelhantes no México e na Venezuela.

As vendas do livro ajudaram a financiar as atividades da biblioteca atualmente dirigida por Naranjo, que continua convidando as crianças a deixar a imaginação voar com outras dinâmicas.

"Nós adultos somos condescendentes quando falamos com as crianças e deve ser o contrário. Mais que nos abaixarmos temos que ficar na altura deles. Estar à altura deles é nos inclinarmos para olhar as crianças nos olhos e falar com elas cara a cara. Escutar suas dúvidas, seus medos e seus desejos", diz.

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