12/08/2010

OIT alerta para surgimento de geração perdida de jovens sem emprego

Daniela Fernandes - BBC

Geração perdida

O número recorde de quase 81 milhões de jovens desempregados no mundo em 2009, devido à crise econômica, cria o risco do surgimento de "uma geração perdida, constituída de jovens que abandonaram o mercado de trabalho e perderam as esperanças de poder trabalhar e ganhar a vida decentemente", alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em um relatório divulgado nesta quarta-feira.

O risco da existência de uma "geração perdida" afeta sobretudo os jovens de países desenvolvidos, onde "novos candidatos que ingressam no mercado de trabalho se somam às filas de desempregados", disse à BBC Brasil Sara Elder, economista da OIT e autora do relatório Tendências mundiais do emprego dos jovens 2010.

O número de jovens desempregados nos países ricos passou de 8,5 milhões em 2008 a 11,4 milhões em 2009, o que representa um aumento de 34,1%.

Gerações eternamente perdidas

No caso dos países em desenvolvimento e pobres, onde muitos trabalham de maneira independente e em setores informais e não podem contar com benefícios sociais, os jovens desempregados "perdem a oportunidade de sair da pobreza", afirmou a economista.

"Nos países em desenvolvimento, os efeitos da crise econômica ameaçam agravar os déficits de trabalho decente dos jovens, tendo como resultado um aumento do número de jovens trabalhadores bloqueados na pobreza, prolongando o ciclo da pobreza no trabalho em pelo menos uma geração", declarou o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.

Já nos países ricos, muitos jovens desempregados acabam optando por prolongar seus estudos superiores após ficarem pelo menos um ano inativos. "Mas muitos se revoltam com a situação, se sentem desencorajados e abandonam a procura de um trabalho", disse a economista.

Programas para jovens

Não há números globais em relação aos jovens que desistem de ingressar no mercado de trabalho, mas ela citou os exemplos de alguns países.

Na Grã-Bretanha, segundo a autora do estudo, 25% dos jovens inativos se sentem desencorajados para procurar um emprego.

Esse é o índice mais alto entre as economias desenvolvidas. Na Espanha, 10% dos jovens desempregados perderam as esperanças de encontrar um trabalho.

Elder disse que muitos países desenvolvidos, como os da União Europeia, criaram programas de formação e adotaram medidas fiscais para subsidiar a contratação de jovens.

"O perigo agora são as pressões para retirar esses incentivos", afirmou, se referindo às restrições orçamentárias para reduzir os elevados déficits públicos dos países europeus.

Segundo o relatório, o número de jovens com idade entre 15 e 24 anos desempregados aumentou em 7,8 milhões no mundo entre 2007 e 2009, totalizando 80,7 milhões de pessoas.

A título de comparação, durante o período de dez anos que precedeu a crise atual (de 1996/97 a 2006/07), o número de jovens desempregados no mundo aumentou em 1,91 milhão.

A taxa de desemprego dos jovens passou de 11,9% em 2007 a 13% em 2009, a maior alta em termos percentuais dos últimos 20 anos em que a OIT dispõe de estatísticas internacionais.

A organização prevê que o índice de desemprego entre os jovens começará a diminuir somente em 2011.

Neste ano, a OIT estima uma leve alta na taxa, que deve atingir 13,1% dos jovens economicamente ativos.

Caso especial

Embora o estudo da OIT retrate a situação apenas por regiões do mundo e não por países, a economista afirmou que o Brasil "é um caso muito especial e representa um bom exemplo de resposta à crise" do desemprego dos jovens.

Elder citou o programa Bolsa-Família, que teria contribuído, segundo ela, para a redução da taxa de desemprego dos jovens no Brasil.

O índice, no segundo trimestre deste ano, é de 17%. No mesmo período de 2007, a taxa era de 18,7%.

Na América Latina e Caribe, o número de jovens desempregados aumentou 11,4% entre 2008 e 2009, totalizando 8,8 milhões de pessoas.

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