17/11/2010

Homem, mulher, HIV: diferentes causas para piora na vida sexual

Glenda Almeida - Agência USP

Sexo pior

Após o diagnóstico positivo de HIV, homens e mulheres sofrem piora em suas relações sexuais.

Essa piora pode estar relacionada a inúmeros fatores, desde o desempenho até a frequência do ato sexual.

Segundo a pesquisa, realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP, ao comparar homens e mulheres, foi possível perceber que cada grupo considera diferentes variáveis como causas da piora na vida sexual.

Concepções culturais

A psicóloga Lígia Polistchuck constatou que algumas concepções construídas social e culturalmente sobre os universos masculino e feminino podem exercer influência na piora da vida sexual.

Segundo ela, além de se depararem com tais concepções, atualmente os soropositivos ainda enfrentam um suporte muitas vezes inadequado, dado pelas instituições que se dizem especializadas.

"Este suporte se reduz ao diagnóstico da doença, sem atentar para os outros fatores que auxiliariam na promoção de sua saúde", afirma Lígia.

A pesquisa, baseada na análise de questionários respondidos por 979 portadores de HIV, aponta as variáveis mais relacionadas à piora tratando-se de cada sexo.

Há variáveis que protegeriam os soropositivos da piora na vida sexual, chamadas "protetivas", e também variáveis que colaborariam para o agravamento da vida sexual. Para cada sexo, variáveis diferentes apresentam-se como mais expressivas, sejam protetivas ou não.

Universos masculino e feminino

Para as mulheres, a falha de suporte do serviço de saúde, em diversos aspectos, é considerada muito significativa como causa de piora na vida sexual.

Já para os homens, ter o número de parceiras sexuais reduzido após o diagnóstico apresenta-se como questão expressiva para o agravamento na vida sexual.

Isso não os ajuda na tentativa de manutenção do "ser homem", uma construção sociocultural.

Como "protetiva", "a facilidade para falar com psicólogo às vezes" apareceu no universo masculino. Curiosamente, ao contrário do que se esperava, com base no senso comum de que mulheres conversam mais com os médicos - psicólogos e outros profissionais da área -, esta variável não foi expressiva para o universo feminino.

Apesar disso, "a não abertura para falar com ginecologista sobre as relações sexuais" foi considerada um motivo expressivo de piora.

A partir desta comparação, Lígia pôde confirmar a importância de ser oferecido um espaço para que as pessoas que vivem com HIV possam falar da vida sexual com o profissional de saúde. Este, por sua vez, deve ter um olhar mais atento às demandas não tão óbvias, ou que não se associem somente à prevenção ou ausência de doença.

Vida financeira e uso de drogas

O trabalho constatou ainda que questões que dizem respeito à vida financeira também exercem influência para as mudanças na vida sexual de portadores.

No caso dos homens e das mulheres, respectivamente, estar empregado e receber um salário mediano, por exemplo, é considerado importante para as mudanças na vida sexual.

Os homens, caso desempregados, têm mais possibilidade de apresentar piora. Esta piora aconteceria porque o homem é cobrado e/ou se cobra quando o assunto é "desempenho", "poder", "prover", colaborando para o que a pesquisadora apontou sobre a influência das construções socioculturais associadas à vida sexual, além do diagnóstico positivo para o HIV.

No que diz respeito às drogas, a variável "fazer uso de maconha", sendo este uso prévio ou atual, não determinado, apareceu como variável protetiva para os homens.

Segundo a pesquisadora, "é possível associar este dado a duas questões: os efeitos do uso podem trazer um relaxamento que é útil se pensarmos na cobrança frente ao desempenho do homem na cena sexual.

Ainda, o uso de droga pode se associar a uma construção de masculino valorizada, a de correr riscos, a de uma vivência e um saber sobre esta esfera". É importante lembrar, segundo Lígia, que o efeito do uso é singular em cada organismo, o que não permite generalizações.

Para as portadoras de HIV esta variável não surgiu como associada à piora na vida sexual, revelando o quanto homens e mulheres são influenciados por variáveis diferentes em suas relações afetivas a partir do diagnóstico.

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