14/11/2022

Isso não soa bem: Nosso cérebro sabe o som que deveríamos ouvir

Redação do Diário da Saúde
Em pesquisas recentes, os cientistas tiveram surpresas tanto no funcionamento do ouvido como no processamento da nossa audição.
[Imagem: Esi Grünhagen/Pixabay]

Sons que parecem errados

Seja alguém batendo a porta do carro, um taco que bate errado na bola de sinuca ou uma nota mal colocada na música, nossos ouvidos nos dizem quando algo não soa bem.

Uma equipe de neurocientistas descobriu como isso acontece: Nosso cérebro tem uma espécie de rotina que o permite fazer distinções entre sons "certos" e "errados".

De modo mais geral, a pesquisa nos dá uma compreensão maior de como aprendemos tarefas audiomotoras complexas, como falar ou tocar instrumentos musicais.

Compreender como o cérebro funciona para separar os sons que nos parecem "certos" daqueles que nos parecem "errados" também vai ajudar os cientistas e médicos estudarem o que dá errado em distúrbios neurais importantes, como a esquizofrenia, e em fenômenos como "ouvir vozes".

"Nossos cérebros estão sempre registrando se um som corresponde ou se desvia das expectativas. Em nosso estudo, descobrimos que o cérebro é capaz de fazer previsões precisas sobre quando um som deve acontecer e como ele deve soar," disse o professor David Schneider, na Universidade de Nova York (EUA).

Previsão auditiva

A equipe fez suas descobertas depois de treinar camundongos para que eles realizassem tarefas semelhantes a fechar a porta, tocando um som característico toda vez que o animal desempenhava a tarefa de acordo com o esperado.

Os animais aprenderam exatamente como a alavanca que fechava a porta deveria soar. Se os pesquisadores eliminassem o som, tocassem o som errado ou tocassem o som correto na hora errada, os camundongos detectavam a alteração e reagiam, assim como quando fazemos quando um colega mal-educado bate a porta do carro.

Quando gravaram a atividade cerebral dos camundongos durante esses comportamentos - especificamente, como os neurônios respondiam no córtex auditivo, um dos centros auditivos do cérebro - os pesquisadores notaram que esses neurônios apresentavam uma atividade mínima quando o animal empurrava a porta e ouvia o som esperado. No entanto, ante qualquer alteração no som, seja um som diferente, no tempo errado ou um som estridente, esses neurônios respondiam vigorosamente.

"O córtex auditivo parece sinalizar não o que foi ouvido, mas se o que foi ouvido corresponde ou viola as expectativas," observou o pesquisador Nicholas Audette, responsável pelos experimentos.

Além de seu papel na previsão dos sons durante nossos comportamentos cotidianos, acredita-se que seja o funcionamento anormal desse mesmo circuito cerebral que leve a doenças como a esquizofrenia ou a psicose, levando à percepção de "vozes fantasmas" que não estão realmente lá, dizem os pesquisadores. A esperança deles é que, ao entender esses circuitos cerebrais no cérebro saudável, eles possam começar a entender o que pode dar errado durante a doença.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Precise movement-based predictions in the mouse auditory cortex
Autores: Nicholas J. Audette, WenXi Zhou, Alessandro La Chioma, David M. Schneider
Publicação: Current Biology
DOI: 10.1016/j.cub.2022.09.064
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Audição

Cérebro

Neurociências

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.