04/05/2023

Melatonina, usada para dormir melhor, pode piorar quadros de inflamação intestinal

Com informações da Agência Fapesp
Melatonina, usada para dormir melhor, pode piorar quadros de inflamação intestinal
Dependendo do perfil da microbiota, o hormônio agrava enfermidades como doença de Crohn e retocolite ulcerativa.
[Imagem: Freepik]

Melatonina e a flora intestinal

Bem conhecido por seu efeito antioxidante e regulador do sono, a melatonina também tem seu lado vilão, podendo piorar a inflamação intestinal, dependendo do conjunto de bactérias que vivem no corpo humano, especialmente no intestino.

Foi o que descobriu a equipe da professora Cristina Cardoso, da USP de Ribeirão Preto (SP).

A melatonina é conhecida popularmente como "hormônio do sono", e tem sido bastante corriqueiro as pessoas, sem prescrição médica e de forma não diretamente acompanhada, fazerem uso de melatonina para dormir melhor.

"O 'x' da questão é que todo mundo acha que é inócuo, que um hormônio como a melatonina não faz nada de mau, só melhora o sono, e o que estamos mostrando é que as pessoas têm de ficar atentas e alertas, porque uma suplementação hormonal pode melhorar o sono, mas pode piorar outra coisa," disse Cristina.

A equipe da professora Cristina trabalha com enfermidades inflamatórias intestinais, entre elas doença de Crohn e retocolite ulcerativa. São condições imunomediadas, ou seja, dependentes de uma resposta imunológica descontrolada que acaba causando destruição no trato gastrointestinal e efeitos clínicos muito fortes, como dores abdominais, diarreias constantes, sangramentos e muita fadiga.

O tratamento depende da supressão ou inibição da imunidade. É preciso diminui-la para reduzir a inflamação excessiva que causa danos ao intestino. Além de corticoides e imunossupressores, há tratamentos com medicamentos imunobiológicos mais efetivos para casos moderados e graves, porém, de altíssimo custo e, por isso mesmo, de acesso mais difícil para a população, sendo fornecidos apenas em condições específicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênios particulares via ações judiciais.

Ruim só no caso de doenças intestinais

Após induzir a doença intestinal de forma experimental em camundongos, quando eles eram tratados com melatonina, ao invés de melhorar, eles pioravam. "Por esse trabalho com animais de laboratório - é importante ressaltar que não foi com pacientes humanos, foi com camundongos - a inflamação intestinal piora, e piora muito," contou Cristina.

"A partir daí começamos a tentar entender os porquês da piora. E o que vimos é que, se tirarmos a microbiota do contexto, se a gente fizer um tratamento de amplo espectro com antibióticos nesses camundongos, eliminando todas essas bactérias, a melatonina passa a ter um efeito positivo na doença."

Ou seja, o efeito negativo da melatonina depende das bactérias que vivem no intestino e que também estão relacionadas às doenças inflamatórias intestinais. Certas configurações da microbiota fazem com que o tratamento com melatonina aumente os parâmetros inflamatórios e leve o sistema imunológico por um caminho ainda mais desregulado, que intensifica os danos ao trato gastrointestinal.

"Qual a mensagem disso tudo? Eu diria: nem tudo que reluz é ouro. A gente tem de tomar muito cuidado com medicamentos, suplementações hormonais ou hormônios que são administrados com capa de suplemento alimentar. Ou seja, você vai na farmácia, compra um 'suplemento alimentar' achando que não é medicamento, que não vai alterar nada o seu corpo, que só vai fazer bem porque afinal de contas é vendido como suplemento alimentar, quando na verdade não é bem isso", adverte Cristina. "É um hormônio e, assim como outros hormônios no nosso corpo, existe uma regulação muito fina da interação entre esses hormônios e a imunidade."

Checagem com artigo científico:

Artigo: The Microbiota-Dependent Worsening Effects of Melatonin on Gut Inflammation
Autores: Jefferson Luiz da Silva, Lia Vezenfard Barbosa, Camila Figueiredo Pinzan, Viviani Nardini, Irislene Simões Brigo, Cássia Aparecida Sebastião, Jefferson Elias-Oliveira, Vânia Brazão, José Clóvis do Prado Júnior, Daniela Carlos, Cristina Ribeiro de Barros Cardoso
Publicação: Microorganisms
Vol.: 11(2), 460
DOI: 10.3390/microorganisms11020460
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Medicamentos

Sono

Bactérias

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.