20/06/2025

O que o cérebro humano pode fazer que a IA não consegue?

Redação do Diário da Saúde
O que o cérebro humano pode fazer que a IA não consegue?
A inteligência artificial ainda não está pronta para abraçar o mundo.
[Imagem: Thor Deichmann/Pixabay]

Tomada de decisões

Quando vemos uma imagem de um ambiente desconhecido - uma trilha na montanha, uma rua movimentada ou um rio - sabemos imediatamente como podemos nos movimentar: Caminhar, andar de bicicleta, nadar ou... não seguir adiante.

Parece simples, mas como o cérebro realmente determina essas oportunidades de ação?

Clemens Bartnik e uma equipe da Universidade de Amsterdã (Países Baixos) descobriram como fazemos estimativas de possíveis ações, e fazemos isso graças a padrões cerebrais únicos. Eles também compararam essa capacidade humana com um grande número de modelos de inteligência artificial (IA), incluindo o ChatGPT.

"Os modelos de IA se mostraram menos eficientes nisso e ainda têm muito a aprender com o eficiente cérebro humano," disse a professora Iris Groen.

Primeiro nos aparelhos

Usando um aparelho de ressonância magnética, a equipe investigou o que acontece no cérebro quando as pessoas olham para várias fotos de ambientes internos e externos. Os participantes usavam um botão para indicar se a imagem os convidava a caminhar, andar de bicicleta, dirigir, nadar, andar de barco ou escalar.

"Nós queríamos saber: Quando você olha para uma cena, você vê principalmente o que está lá - como objetos ou cores - ou também vê automaticamente o que pode fazer com ela?" explicou Groen. "Os psicólogos chamam estas últimas de 'recursos', [que são] oportunidades de ação - imagine uma escada que você pode subir ou um campo aberto por onde você pode correr."

Processos únicos no cérebro

A equipe descobriu que determinadas áreas do córtex visual se tornam ativas de um modo que não pode ser explicado por objetos visíveis na imagem.

"O que vimos foi único," conta Groen. "Essas áreas do cérebro não representam apenas o que pode ser visto, mas também o que você pode fazer com isso."

O cérebro funcionou assim mesmo quando os participantes não receberam uma instrução explícita de ação. "Essas possibilidades de ação são, portanto, processadas automaticamente," interpreta Groen. "Mesmo que você não pense conscientemente sobre o que pode fazer em um ambiente, seu cérebro ainda registra isso."

A pesquisa demonstra, assim, pela primeira vez, que os tais 'recursos' não são apenas um conceito psicológico, mas também uma propriedade mensurável do nosso cérebro.

O que a IA ainda não entende

A equipe também comparou o quão bem algoritmos de IA - como modelos de reconhecimento de imagem ou GPT-4 - conseguem estimar o que um ser humano pode fazer em um determinado ambiente. Eles foram piores em prever possíveis ações. "Quando treinados especificamente para reconhecimento de ações, eles conseguiram se aproximar um pouco dos julgamentos humanos, mas os padrões do cérebro humano não correspondiam aos cálculos internos dos modelos," explicou Groen.

"Mesmo os melhores modelos de IA não dão exatamente as mesmas respostas que os humanos, embora seja uma tarefa tão simples para nós," prosseguiu a pesquisadora. "Isso mostra que nossa maneira de ver está profundamente interligada à forma como interagimos com o mundo. Conectamos nossa percepção à nossa experiência em um mundo físico. Os modelos de IA não conseguem fazer isso porque existem apenas em um computador."

O que o cérebro humano pode fazer que a IA não consegue?
Por outro lado, algumas pesquisas indicam que a inteligência artificial supera maioria dos humanos criatividade.
[Imagem: Alexandra_Koch/Pixabay]

IA ainda pode aprender com o cérebro humano

Esta pesquisa lida com questões mais amplas sobre o desenvolvimento de uma IA confiável e eficiente.

"À medida que mais setores - da saúde à robótica - utilizam a IA, torna-se importante que as máquinas não apenas reconheçam o que algo é, mas também entendam o que ele pode fazer," explica Groen. "Por exemplo, um robô que precisa se orientar em uma área de desastre, ou um carro autônomo que consegue distinguir uma ciclovia de uma entrada de veículos."

Os pesquisadores também destacam o aspecto sustentável da IA. "Os métodos atuais de treinamento em IA consomem uma enorme quantidade de energia e, muitas vezes, são acessíveis apenas a grandes empresas de tecnologia. Mais conhecimento sobre como nosso cérebro funciona e como o cérebro humano processa certas informações de forma rápida e eficiente podem ajudar a tornar a IA mais inteligente, mais econômica e mais amigável ao ser humano."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Representation of locomotive action affordances in human behavior, brains, and deep neural networks
Autores: Clemens G. Bartnik, Christina Sartzetaki, Abel Puigseslloses Sanchez, Elijah Molenkamp, Steven Bommer, Nikolina Vukci, Iris I. A. Groen
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 122 (24) e2414005122
DOI: 10.1073/pnas.2414005122
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