07/06/2012

Sobrediagnósticos já representam perigos para saúde humana

Redação do Diário da Saúde
Sobrediagnósticos já representam perigos para saúde humana
O excesso de diagnósticos já representa uma ameaça à saúde humana, alertam pesquisadores, que estão convocando uma conferência mundial sobre o tema.
[Imagem: Wikipedia/Gigillo83]

Problema mundial

O sobrediagnóstico - o excesso de diagnósticos - já representa uma ameaça significativa para a saúde humana.

Isso ocorre ao se rotular pessoas saudáveis como doentes, fazendo-as tomar medicamentos não apenas desnecessários, mas muitas vezes perigosos em vista da ausência da doença, além de desperdiçar os recursos públicos que poderiam estar sendo usados para quem realmente precisa deles.

Quem faz essa advertência contundente é Ray Moynihan, da Universidade Bond, na Austrália, em um chamamento público divulgado pelo renomado British Medical Journal.

O Dr. Moynihan é o líder de uma equipe que está convocando especialistas de todo o mundo para uma conferência mundial sobre o problema dos sobrediagnósticos, que deverá ser realizada no ano que vem nos Estados Unidos.

Prevenir os sobrediagnósticos

A conferência é oportuna, diz Moynihan, porque "como se acumulam as evidências de que estamos prejudicando a saúde, a preocupação com o excesso de diagnósticos está dando lugar a uma ação coordenada sobre como preveni-lo."

O sobrediagnóstico ocorre quando as pessoas são diagnosticadas e tratadas de condições que nunca iriam lhes causar danos.

Segundo o especialista, as evidências mostram que isso ocorre não apenas em um ou outro tipo de câncer, mas em uma ampla gama de condições.

Por exemplo, cita ele:

  1. um grande estudo canadense descobriu que quase um terço das pessoas com diagnóstico de asma pode não ter a condição;
  2. uma revisão sistemática da literatura científica mostrou que até um em cada três casos de câncer de mama detectados através de exames preventivos pode ser sobrediagnóstico;
  3. e
  4. alguns pesquisadores argumentam que tratamentos para a osteoporose podem fazer mais mal do que bem para as mulheres em situação de risco muito baixo de fraturas no futuro.

Falsas doenças

Muitos fatores estão levando ao sobrediagnóstico, incluindo interesses comerciais e profissionais, incentivos legais e questões culturais, dizem Moynihan e seus coautores, os professores Jenny Doust e David Henry.

Testes cada vez mais sensíveis estão detectando "alterações" cada vez menores, que nunca vão progredir, alargando as definições das doenças e reduzindo os limiares de tratamento.

Isso significa que pessoas com riscos cada vez mais baixos estão passando a receber "etiquetas médicas permanentes" - "você sofre da doença X" - e recebendo terapias ao longo da vida que não vão beneficiar muitas delas.

Somado a isso, há ainda a medicalização e o desperdício de recursos que poderiam ser melhor utilizados para prevenir e tratar doenças verdadeiras.

Crença e fé

Mas Moynihan argumenta que o principal problema do excesso de diagnósticos encontra-se em uma forte crença cultural na detecção precoce, alimentada por uma profunda fé na tecnologia médica.

"Cada vez mais a população está passando a acreditar que estar 'sob risco' de uma doença é o mesmo que ter a doença em si," diz ele.

"Levou muitos anos para os médicos aceitarem que bactérias causam úlceras pépticas," exemplifica o Dr. David Henry.

"Da mesma forma, será difícil para os médicos e o público reconhecerem que a detecção precoce de doenças nem sempre é algo feito no melhor interesse dos pacientes," conclui.

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