Polarização dirigida
Mesmo mecanismos de busca imparciais podem levar os usuários a câmaras de eco digitais, ambientes que funcionam como espécies de circuitos fechados de opiniões, que só reforçam aquilo que os usuários preferem acreditar.
Ao contrário do que muitos esperavam, a riqueza de opiniões que a internet viabilizou pode estar na base desta nova era definida por visões polarizadas sobre tudo, da saúde pública à política: As pessoas estão cada vez mais tendo dificuldade em admitir que podem estar erradas e, em decorrência, em mudar de ideia, e isso parece ser ainda mais verdadeiro quando elas recorrem à internet para obter respostas às suas dúvidas.
A novidade agora é que pesquisadores descobriram que as pessoas frequentemente usam mecanismos de busca de maneiras que reforçam involuntariamente suas próprias crenças prévias.
"Quando as pessoas buscam informações online - seja no Google, no ChatGPT ou em novos mecanismos de busca com tecnologia de IA -, elas frequentemente escolhem termos de busca que refletem o que já acreditam, às vezes sem nem perceber," explica a professora Eugina Leung, da Universidade Tulane (EUA). "Como os algoritmos de busca atuais são projetados para fornecer as respostas 'mais relevantes' para qualquer termo que você digitar, essas respostas podem reforçar o que você pensou inicialmente. Isso dificulta que as pessoas descubram perspectivas mais amplas."
Explique melhor
Em 21 experimentos envolvendo quase 10.000 participantes, os pesquisadores testaram como as pessoas procuram por informações nas principais plataformas de pesquisa. Independentemente de os usuários pesquisarem sobre cafeína, energia nuclear, taxas de criminalidade ou covid-19, os termos de busca que usaram tenderam a ser estruturados de forma alinhada às suas opiniões preexistentes.
Por exemplo, pessoas que acreditam que a cafeína é saudável tendem a pesquisar "benefícios da cafeína", enquanto as que não têm a mesma opinião preferem digitar "riscos da cafeína para a saúde". Essas diferenças sutis de fato levam a resultados de pesquisa drasticamente diferentes, reforçando as crenças originais de cada uma.
O efeito persistiu mesmo quando os participantes não tinham a intenção de confirmar um viés ou preconceito. Em alguns experimentos, menos de 10% dos voluntários admitiram ter elaborado deliberadamente sua busca para validar o que já pensavam, mas seu comportamento de busca ainda se mostrou intimamente alinhado com suas crenças.
Internet valorizando o conhecimento
A questão não é apenas como as pessoas pesquisam e como os mecanismos de busca respondem: A maioria das ferramentas da internet foi projetada para priorizar a relevância não para o assunto, mas para o termo de busca, mostrando resultados mais fortemente relacionados às palavras exatas que o usuário digita. Mas essa relevância cobra seu custo, eliminando outras perspectivas.
Essa dinâmica se manteve até mesmo para ferramentas baseadas em IA, como Gemini, DeepSeek e ChatGPT: Embora as respostas da IA frequentemente mencionassem brevemente visões opostas, os usuários interpretaram essas respostas como reforçando suas convicções prévias à consulta.
Os pesquisadores então testaram diversas maneiras de incentivar os usuários a ampliar seus pontos de vista. Simplesmente incentivar os usuários a considerar perspectivas alternativas ou realizar mais pesquisas teve pouco efeito. No entanto, uma abordagem funcionou consistentemente: Mudar o algoritmo. Quando ferramentas de busca experimentais foram programadas para retornar uma gama mais ampla de resultados - independentemente de quão restrita fosse a consulta - as pessoas mostraram-se mais propensas a reconsiderar suas crenças originais.
Agora é só convencer as grandes empresas de buscas na internet a trabalhar pela ampliação do conhecimento geral. Apenas para citar uma dificuldade, os pesquisadores afirmam que o que precisa ser feito - obter resultados de busca amplos - é exatamente o oposto do que fazem ferramentas como o "Estou com sorte" do Google, que levam a um resultado específico, quando deveria proporcionar perspectivas mais diversas sobre um tópico.
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