08/06/2017

Tecnologias de aprimoramento moral são exemplo de má ciência

Redação do Diário da Saúde
Tecnologias de aprimoramento moral são exemplo de má ciência
Em todas as épocas houve cientistas que tentaram usar a ciência para manipular os seres humanos - sempre com resultados desastrosos.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Má ciência

Talvez você não saiba, mas muitos cientistas estão trabalhando no desenvolvimento do que eles chamam de "tecnologias de aprimoramento moral" - técnicas que poderiam "melhorar" o comportamento humano.

Felizmente, outros pesquisadores têm visto e apontado os erros nessas abordagens e, com base em uma avaliação das pesquisas existentes sobre essas "terapias", afirmam que elas não são boa ciência - são o que alguns chamam de cinismo na ciência.

"Tecnologias de aprimoramento moral não são nem viáveis e nem sábias," escreveram os professores Veljko Dubljevic e Eric Racine, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA) e do Instituto de Pesquisas Clínicas de Montreal (Canadá).

Tecnologias de aprimoramento moral

A ideia por trás das tecnologias de aprimoramento moral é usar técnicas biomédicas para tornar as pessoas mais moralmente aceitas pelas normas sociais. Por exemplo, usar drogas ou técnicas cirúrgicas para tratar criminosos que tenham apresentado "defeitos morais".

"Há maneiras que as pessoas já exploraram para manipular a moralidade, mas a questão que abordamos neste artigo é se manipular a moralidade realmente melhora a moralidade," ressalvou Dubljevic.

Especificamente, eles analisaram quatro tipos de intervenções farmacológicas e três técnicas de neuroestimulação, e os argumentos que os cientistas do aprimoramento moral utilizam:

  1. A oxitocina - ou ocitocina - é um neuropeptídeo que desempenha um papel na cognição social, nos comportamentos de ligação e afiliação - tanto que alguns a chamam de "molécula moral".
  2. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são frequentemente prescritos para a depressão, mas também parecem tornar as pessoas menos agressivas.
  3. As anfetaminas, que alguns cientistas argumentam poderem ser usadas para aumentar a motivação para agir.
  4. Os bloqueadores beta, comumente prescritos para tratar hipertensão, mas que também parecem diminuir reações racistas implícitas.
  5. A estimulação magnética transcraniana, um tipo de neuroestimulação que tem sido usado para tratar a depressão, mas também tem sido relatado como capaz de mudar a maneira como as pessoas respondem a dilemas morais.
  6. A estimulação transcraniana de corrente contínua, uma forma experimental de neuroestimulação que também tem sido relatada como capaz de tornar as pessoas mais utilitaristas.
  7. A estimulação cerebral profunda, uma intervenção neurocirúrgica que alguns cientistas têm apontado como tendo potencial para aumentar a motivação.

"O que descobrimos é que, sim, muitas dessas técnicas têm alguns efeitos. Mas estas técnicas são todas instrumentos contundentes, ao invés de tecnologias finamente sintonizadas que poderiam ser úteis. Em suma, o aprimoramento moral não é viável - e mesmo se fosse, a história nos mostra que usar a ciência para tentar manipular a moralidade não é sábio," diz Dubljevic, lembrando da eugenia e da defesa científica das raças puras.

Tiro pela culatra

Os pesquisadores encontraram vários problemas para cada uma das abordagens sugeridas pelos defensores do "aprimoramento moral científico".

"A oxitocina promove a confiança, mas apenas no grupo," observa Dubljevic. "E ela pode diminuir a cooperação com membros de fora da sociedade, como as minorias raciais, e promover seletivamente o etnocentrismo, o favoritismo e o paroquialismo".

As anfetaminas, por sua vez, aumentam a motivação para todos os tipos de comportamento, e não apenas para o comportamento moral. Além disso, existem riscos significativos de dependência associada às anfetaminas, que já são a segunda droga mais utilizada no mundo.

Os beta-bloqueadores não apenas diminuíram o racismo nos experimentos, mas também embotaram toda a resposta emocional, o que coloca em dúvida a sua utilidade. Os ISRS, por sua vez, reduzem a agressividade, mas têm sérios efeitos colaterais, incluindo um maior risco de suicídio.

Por fim, os pesquisadores não encontraram evidências de que a estimulação cerebral profunda tivesse qualquer efeito sobre o comportamento moral.

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