06/12/2022

Tempo passa mais lento no meio da multidão

Redação do Diário da Saúde
Tempo passa mais lento no meio da multidão
O efeito pode até ser maior, já que se sabe que experimentos de realidade virtual alteram a sensação do tempo.
[Imagem: Saeedeh Sadeghi et al. - 10.1007/s10055-022-00713-8]

Tempo e multidão

Ficar em locais com grandes aglomerações de pessoas faz com que o tempo pareça passar mais devagar.

Experimentos realizados em uma estação de metrô mostraram que, nos horários de pico do movimento, as pessoas têm uma sensação de terem passado na estação períodos significativamente mais longos do que mostra a medição objetiva do tempo.

Para aferir isso, a equipe montou um sistema de realidade virtual que permite ir aglomerando pessoas aos poucos ao redor do voluntário, gerando um cenário muito realista de uma viagem de metrô.

"É uma nova forma de pensar sobre aglomeração social, mostrando que ela muda a forma como percebemos o tempo," disse Saeedeh Sadeghi, da Universidade Cornell (EUA). "A aglomeração cria sentimentos estressantes e isso faz com que a viagem pareça mais longa."

Estes experimentos somam novas evidências de que o contexto social e as sensações subjetivos distorcem nosso senso de passagem do tempo, o que pode ter implicações práticas na disposição das pessoas de frequentar locais ou usar o transporte público em determinados horários, por exemplo.

Simulação de multidão

Pesquisas anteriores já haviam identificado as emoções subjetivas, a frequência cardíaca e a complexidade de uma situação entre os fatores que podem influenciar a experiência de tempo de uma pessoa. Mas esses experimentos geralmente são conduzidos em ambientes de laboratório, usando tarefas e estímulos simples, como formas ou imagens na tela do computador, por curtos períodos.

Com o novo aplicativos de realidade virtual, Sadeghi e seus colegas testaram a percepção do tempo em um ambiente imersivo muito realista, que permitia o controle sistemático da aglomeração. Mais de 40 voluntários fizeram cinco viagens simuladas de metrô com uma duração atribuída aleatoriamente de 60, 70 ou 80 segundos, cada uma com diferentes níveis de aglomeração.

Depois de colocar monitores de frequência cardíaca e óculos de realidade virtual para "embarcar" na cena do metrô de Nova York, os voluntários ouviam um anúncio para "Afastem-se das portas que se fecham, por favor", seguido pelo ding-dong de uma campainha e dos sons das portas se fechando e do trem acelerando. A viagem terminava com a parada do trem, outro toque de campainha e o anúncio da chegada à estação.

Cada nível de aglomeração adicionava uma pessoa por metro quadrado, resultando em aglomerações que variaram de 35 a 175 passageiros. Os participantes do estudo podiam olhar ao redor do vagão, vendo avatares animados de passageiros sentados e em pé que mudavam de posição, olhavam para telefones ou liam livros e revistas.

Espaço pessoal

As viagens lotadas, em média, pareceram durar cerca de 10% a mais do que as viagens menos lotadas.

A distorção do tempo também relacionou-se com o grau de prazer ou desprazer relatado pelos voluntários, sendo as viagens desagradáveis sentidas 20% mais longas do que as agradáveis, o que os autores atribuíram à ativação dos sistemas de defesa emocional quando as pessoas sentem que o seu espaço pessoal é violado.

"Este estudo destaca como nossa experiência cotidiana com as pessoas e nossas emoções subjetivas sobre elas distorcem dramaticamente nosso senso de tempo," disse o professor Adam Anderson. "O tempo é mais do que o que o relógio diz; ele tem mais a ver com como o sentimos ou como o valorizamos como um recurso."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Affective experience in a virtual crowd regulates perceived travel time
Autores: Saeedeh Sadeghi, Ricardo Daziano, So-Yeon Yoon, Adam K. Anderson 
Publicação: Virtual Reality
DOI: 10.1007/s10055-022-00713-8
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