Fio dental e AVC
O uso regular do fio dental pode reduzir significativamente o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e outras doenças, revela pesquisa que acompanhou mais de 6 mil pessoas ao longo de 25 anos.
Indivíduos que utilizavam fio dental pelo menos uma vez por semana apresentaram 22% menos risco de AVC isquêmico, 44% menos risco de AVC cardioembólico e 12% menos risco de fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca associada a maior propensão a acidentes vasculares.
Os dados reforçam a importância de um hábito simples e muitas vezes negligenciado: A higienização bucal. A boca é um foco constante de infecções e possui uma grande concentração de bactérias. Quando a boca não é higienizada de forma adequada, essas bactérias podem migrar para outras regiões do corpo e desencadear ou agravar processos inflamatórios sistêmicos.
"A medicina periodontal, abordagem moderna que estuda essas relações, reconhece que a saúde bucal tem influência direta sobre diversas condições médicas. Essa compreensão resgata ideias já discutidas na década de 1920 com a teoria da infecção focal, que caiu no descrédito por falta de embasamento acadêmico à época e que hoje ganha novo respaldo científico," explica o professor Sebastião Greghi, da USP de Bauru (SP).
Em relação ao impacto mais expressivo do fio dental na redução do AVC cardioembólico, o pesquisador explica que a doença periodontal pode contribuir para a formação de placas ateromatosas e êmbolos, por meio da atuação de bactérias e citocinas inflamatórias liberadas pelas gengivas doentes. "Essas placas, quando se rompem, podem causar obstruções em vasos cerebrais e provocar um AVC de origem cardíaca. Isso demonstra o quanto a saúde bucal está relacionada ao bom funcionamento do sistema cardiovascular, que é uma das principais causas de morte no mundo."
Fio dental e doenças
A associação entre o uso do fio dental e a redução do risco de fibrilação atrial tem impacto menor, mas ainda assim real. A inflamação periodontal pode levar à inflamação dos átrios cardíacos, facilitando a ocorrência de arritmias. Segundo o professor, isso pode acontecer tanto pela migração direta de bactérias quanto pela ação sistêmica das citocinas liberadas durante o processo inflamatório. Como a fibrilação atrial pode gerar trombos, que causam AVCs ou infartos, o controle dessa condição por meio da saúde bucal tem grande relevância.
O professor Greghi também ressalta que os benefícios do uso do fio dental vão além da prevenção de doenças cardíacas.
"A placa bacteriana, que se forma constantemente após a alimentação, precisa ser removida mecanicamente por meio da escovação e do fio dental. Essa remoção deve ser feita de maneira técnica, com o fio pressionado contra a superfície do dente, raspando para eliminar a placa, e não apenas para retirar resíduos visíveis de alimentos", explica.
O especialista alerta que a negligência nesse cuidado pode levar ao desenvolvimento de gengivite e, posteriormente, à periodontite, que causa destruição dos tecidos de suporte dos dentes, perda óssea e, em casos mais graves, perda dentária completa.
A doença periodontal, por sua vez, tem sido associada a diversas outras condições de saúde. "Entre elas, podemos destacar o diabetes, pois a infecção bucal mal controlada pode dificultar a ação da insulina e elevar os níveis de glicemia. Casos de endocardite bacteriana, que afetam válvulas cardíacas, também têm relação com bactérias oriundas da cavidade bucal. Além disso, estudos mostram que gestantes com doença periodontal têm maior risco de parto prematuro, aborto e nascimento de bebês com baixo peso," concluiu o pesquisador.
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