21/11/2012

Vacina contra gripe gera polêmica na Europa

Samuel Jaberg - Swissinfo

Discussão de primeiro mundo

Apesar dos esforços significativos por parte das autoridades, profissionais da saúde estão hesitantes em se vacinar ou vacinar os pacientes contra a gripe.

Não, isto não acontecendo no Brasil, mas na Suíça.

Afinal deve-se ou não se vacinar contra a gripe sazonal?

A pergunta está ressurgindo mais uma vez neste outono europeu para os profissionais da saúde e as pessoas que ainda estão hesitantes em tomar a agulhada.

Na Suíça, a campanha mantida pela Secretaria Federal de Saúde Pública (OFSP, na sigla em francês) nos últimos 9 anos é destinada principalmente às pessoas que têm um risco maior de complicações decorrentes de contaminação e àquelas que estão em contato regular com essas pessoas.

Doença leve

De acordo com um estudo da Universidade de Zurique, a vacinação das pessoas em risco diminuiu significativamente ao longo da última década.

Enquanto em 2006/2007 mais de 60% das pessoas com mais de 65 anos haviam se vacinado contra a gripe, no inverno europeu de 2010/2011 a taxa caiu para menos de 50%.

Os objetivos também não foram alcançados em relação ao pessoal da área de saúde.

"É muito difícil convencer os profissionais da área da saúde, seja em instituições para idosos ou nos hospitais, de se vacinar por solidariedade", diz Claire-Anne Siegrist, presidente da Comissão Federal de Vacinação.

Um estudo realizado pelo Hospital Universitário de Genebra (HUG) no inverno passado mostrou que a gripe ainda é considerada por uma grande parte da equipe de enfermagem como "uma doença leve que não requer esforços especiais".

Assim, dos 152 casos de gripe sazonal diagnosticados pelo HUG, 79 desenvolveram sintomas após mais de 72 horas de hospitalização, um período de tempo suficiente para considerar que o vírus tenha sido contraído pelo contato com uma enfermeira, uma visita ou um outro paciente com gripe. 48% destes doentes tiveram complicações, principalmente cardíacas e pulmonares, graves em 8,5% dos casos.

Isso é verdade em um sistema de medicina privada. A campanha das autoridades depende totalmente da vontade dos profissionais da saúde.

"A maioria já foi convencida pela nossa campanha", garante Virginie Masserey, responsável pela seção de vacinação da OFSP. "Quase 80% dos médicos se vacinam e metade dos consultórios médicos participa ao Dia Nacional da Vacinação", acrescenta.

Controvérsia sobre a vacina da gripe

Uma minoria, no entanto, ainda resiste.

É o caso de Pascal Büchler, homeopata em Yverdon-les-Bains e membro do Grupo Médico de Reflexão sobre a Vacinação. "Eu não sou um militante dogmático, mas a vacina contra a gripe provou sua ineficiência, especialmente com os idosos, que representam o principal grupo de risco", diz Büchler.

Virginie Masserey, por sua vez, procura entender o ceticismo manifestado por alguns profissionais. "A taxa de eficácia da vacina varia entre 70 e 90% para os adultos com boa saúde, é menor para as pessoas com risco de complicações", disse.

Para Claire-Anne Siegrist, é melhor ter uma proteção parcial do que nenhuma. "Este é mais um argumento para convencer o pessoal do ramo a se vacinar", comenta a presidente da Comissão Federal de Vacinação.

Pascal Büchler põe em causa não só a eficácia da vacina, mas também a campanha "alarmista" da OFSP. O homeopata cita um estudo realizado pelo epidemiologista americano Tom Jefferson, que concluiu que apenas 5 a 7% das pessoas que apresentam sintomas da gripe estão realmente infectadas com o vírus. "Se relacionarmos estes números com a Suíça teríamos 75 pessoas que morrem da gripe por ano e não 1500 como diz a OFSP".

Uma análise totalmente rejeitada por Claire-Anne Siegrist. "O vírus da gripe raramente é procurado quando se tenta determinar a causa da morte. Quando as análises são realizadas sistematicamente, como foi feito no Hospital Universitário de Genebra, percebemos que muitas complicações ocorrem como resultado de uma infecção por este vírus", diz.

Interesses econômicos

O discurso de um suposto conluio entre a indústria farmacêutica e autoridades da saúde pública, que Pascal Büchler não hesita em mencionar, está ecoando cada vez mais forte na opinião pública.

"A controvérsia em torno da campanha contra a gripe A (H1N1) há dois anos aumentou a desconfiança das pessoas com a vacina contra a gripe sazonal", disse Yves Thomas, responsável do Centro Nacional de Influenza de Genebra.

Na época, a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia sido acusada de ter dramatizado a situação e muitos países, incluindo a Suíça, tiveram que justificar a compra de grandes estoques de vacinas que acabaram no lixo.

"Uma vacina custa cerca de 10 francos [R$22,00], ou menos, se for comprada em grandes quantidades. Não é, nem de longe, com a vacina contra a gripe que as empresas farmacêuticas realizam seus lucros", diz Claire-Anne Siegrist.

Yves Thomas concorda, salientando que o processo de fabricação "é extremamente complexo e pesado, já que a vacina deve ser ajustada a cada ano com base em nas novas linhagens que estão circulando".

Vacina sem injeção

Para os profissionais, as pessoas aceitariam mais uma vacina única ou outros meios de administrá-la que não fosse por injeção.

"Vai levar pelo menos dez anos antes de qualquer comercialização de uma vacina universal", disse Virginia Masserey. "O vírus não confere imunidade vitalícia, por isso será muito difícil criar uma vacina que seja eficaz para toda a vida. Isto pode exigir, por exemplo, a adição de adjuvantes que requerem numerosos estudos para garantir sua segurança", acrescentou.

Para conter a circulação do vírus, uma solução seria a de vacinar todas as crianças, as principais transmissoras da gripe.

"No Japão, tem sido demonstrado que esta prática fez reduzir a taxa de hospitalização de idosos", diz Yves Thomas. Uma possibilidade que ainda não foi excluída pela OFSP.

"Mas antes temos que resolver problemas de logística, custo e aceitação. Não sei se as pessoas estão prontas a dar este passo. Especialmente porque a vacina por via nasal, muito conveniente para as crianças, perde a sua eficácia em pacientes previamente expostos ao vírus da gripe", diz Virginia Masserey.

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