25/01/2013

DNA de voluntários anônimos permite identificar até parentes distantes

Redação do Diário da Saúde
Informação genética pública permite identificação até de parentes distantes
"Mesmo um primo seu de quarto grau, de quem você nunca ouviu falar, poderia identificá-lo se o DNA desse primo estiver no banco de dados, desde que ele esteja paternalmente relacionado a você."
[Imagem: Whitehead Institute for Biomedical Research]

Vulnerabilidades dos dados genéticos

Usando apenas um computador, uma conexão à internet e recursos on-line acessíveis ao público, uma equipe de pesquisadores foi capaz de identificar cerca de 50 indivíduos que cederam material genético pessoal como participantes voluntários em estudos genômicos anônimos.

A fim de realizar um exercício de "pesquisa de vulnerabilidades" - uma prática comum no campo da segurança da informação - a equipe adotou uma abordagem sequencial para provar que, sob certas circunstâncias, os nomes completos e as identidades dos participantes das pesquisas genômicas podem ser determinados com precisão, mesmo quando sua informação genética é mantida em bancos de dados sem identificação.

"Este é um resultado importante, que aponta o potencial para a violação de privacidade em estudos de genômica," afirmou Yaniv Erlich, do Instituto Whitehead (EUA), que liderou a equipe de pesquisa.

Uma descrição do trabalho do grupo foi publicada na revista Science.

Rastreamento genético

Erlich e seus colegas começaram analisando marcadores genéticos únicos, conhecidos como Y-STRs - sequências duplas curtas dos cromossomos Y - de homens cujo material genético foi coletado pelo Centro para o Estudo de Polimorfismos Humanos (CEPH) e cujos genomas foram sequenciados e disponibilizados publicamente como parte do Projeto 1.000 Genomas.

Como o cromossomo Y é transmitido de pai para filho, assim como os sobrenomes de família, há uma forte correlação entre o sobrenome e o DNA do cromossomo Y.

Reconhecendo essa correlação, genealogistas e empresas de genealogia genética criaram bases de dados públicas que listam os dados de Y-STR por sobrenome.

Em um processo conhecido como "inferência de sobrenome", a equipe de Erlich foi capaz de descobrir os nomes de família dos homens submetendo os Y-STRs das bases de dados genéticas anônimas a esses bancos de dados.

Com os sobrenomes em mãos, a equipe consultou outras fontes de informação, incluindo sites de busca na internet, obituários, sites genealógicos e dados demográficos públicos para identificar cerca de 50 homens e mulheres nos Estados Unidos.

Identificação genética

Estudos anteriores já haviam abordado a possibilidade de identificação genética com base no DNA de uma única pessoa, assumindo que o DNA dessa pessoa fosse catalogado em dois bancos de dados separados.

Este novo estudo, no entanto, aproveitou-se de dados entre indivíduos paternalmente distantes.

Como resultado, a equipe destaca que dados genéticos de um único indivíduo podem revelar profundos laços genealógicos e levar à identificação de parentes distantes que podem nem mesmo ter familiaridade com a pessoa que disponibilizou os dados genéticos.

"Nós mostramos que, se, por exemplo, seu tio João cedeu seu DNA para um banco de dados de genealogia genética, você poderá ser identificado," explica Melissa Gymrek, membro do laboratório de Erlich e primeira autora do artigo na Science.

"Na verdade, mesmo um primo seu de quarto grau, de quem você nunca ouviu falar, poderia identificá-lo se o DNA desse primo estiver no banco de dados, desde que ele esteja paternalmente relacionado a você," completou.

Sensibilidade dos dados genéticos

Consciente da sensibilidade do seu trabalho, Erlich enfatiza que não tem a intenção de revelar os nomes das pessoas identificadas, nem deseja reduzir o compartilhamento público de informações genéticas.

"Nosso objetivo é esclarecer melhor o estado atual da identificabilidade de dados genéticos," diz ele. "Mais conhecimento capacita os participantes [dos estudos] a pesar os riscos e benefícios e tomar decisões mais informadas quando pensarem em compartilhar seu próprio DNA.

"Nós também esperamos que este estudo eventualmente leve ao desenvolvimento de melhores algoritmos de segurança, melhores diretrizes políticas e melhor legislação para ajudar a atenuar alguns dos riscos descritos," concluiu o pesquisador.

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