22/03/2021

Acesso à internet e tecnologias de ensino devem se tornar bens públicos

Com informações da Agência Fapesp
Acesso à internet e tecnologias de ensino devem se tornar bens públicos
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo - e o fechamento das escolas está aumentando ainda mais essa desigualdade.
[Imagem: Cherylt23/Pixabay]

Sem educação, mais desigualdade

A educação tem sido uma das grandes vítimas da pandemia em todo o mundo, sobretudo no Brasil.

O fechamento das escolas, a falta de acesso à internet, de computadores e o atraso em alavancar planos de ensino remoto terão impacto em toda uma geração de estudantes e no futuro do trabalho, resultando em um aumento das desigualdades.

"Neste momento, passados 12 meses de pandemia, quando o Brasil perde por dia cerca de 2 mil pessoas para a covid-19, é necessário que haja um debate na sociedade sobre o acesso ao wifi e à internet banda larga como um bem público, assim como é a água e a energia.

"Isso é particularmente importante neste momento da pandemia, com benefícios importantes para todos, especialmente para os mais vulneráveis. Garantir esse acesso permite avançar em tecnologias digitais de ensino remoto," defendeu a professora Lorena Barberia, da USP (Universidade de São Paulo), durante um evento virtual promovido pela FAPESP.

Para a pesquisadora, que liderou um estudo sobre o ensino durante a pandemia em diversos estados brasileiros, sobretudo neste momento de pico de hospitalizações e morte o debate precisa ir além da dualidade de abrir ou não as escolas. "A questão é mais profunda, o problema ainda não acabou e já está trazendo consequências duradouras," afirmou.

Reabertura das escolas

Além da demora em introduzir programas de ensino remoto em todos os estados - a média foi de mais de um mês para alavancar esse tipo de ensino -, o que se viu em 2020 foram programas fracos, que não apresentaram soluções para ampliar o acesso.

"Poucos Estados no Brasil aumentaram o acesso ao ensino remoto. Falta internet e muitos alunos não têm computador nem celular. Muitas famílias têm apenas um celular para cinco ou sete pessoas dividirem, o que obviamente impede que um aluno acompanhe as aulas," disse.

Com isso, criou-se um abismo de desigualdade entre a parte da população que teve acesso à educação e outra que nem sequer teve um dia de aula em todo o ano: "A educação já era extremamente desigual no Brasil e isso se ampliou ainda mais no ano passado. Muitas escolas continuaram com as aulas, mas apenas para os que tinham acesso à internet."

Na opinião da especialista, a avaliação sobre a reabertura das escolas deve ser diferenciada, considerando as heterogeneidades no acesso e a intensidade da cobertura do ensino remoto.

Uma sugestão seria, por exemplo, desenhar programas para os que tiveram algum tipo de aula remota e os que não tiveram: "Muitos ficaram meses sem nenhum tipo de aula e outros começaram a ter aula pela televisão. Mas é completamente diferente para aqueles que tiveram acesso ao ensino remoto por várias horas e com supervisão. Acredito que os grupos com menor acesso ao ensino devem receber atenção especial. Há desigualdades importantes."

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