29/03/2011

Empresa suíça declara guerra ao mau cheiro

Alexander Thoele, da Swissinfo
Empresa suíça declara guerra ao mau cheiro
Produtos para "enobrecer o ar" são mais utilizadas na vida prática do que as pessoas imaginam.
[Imagem: swissinfo]

Ar nobre

Lutar contra maus odores nos asilos de idosos ou tornar a compra de sapatos uma experiência sensitiva.

Produtos para "enobrecer o ar" são mais utilizados na vida prática do que as pessoas imaginam.

Uma das líderes no mercado é uma pequena empresa instalada em um vilarejo próximo a Berna, na Suíça. Seu fundador é conhecido pelos funcionários como "Sr. Nariz".

Cheiro e memória

Muitas pessoas não gostam de visitar asilos de idosos. Afinal, poucos lugares lembram tanto a efemeridade da vida. Porém a maior barreira está, na realidade, em um problema mais terreno: os odores desagradáveis, provocados por doenças graves ou problemas fisiológicos como a incontinência, torna seus espaços uma experiência negativa até para aqueles que estão mais ligados aos seus entes queridos na última fase da vida.

O olfato é um dos cinco sentidos básicos do organismo e o único que está ligado diretamente às emoções e ao depósito de memórias. Portanto, a reação dos visitantes do asilo é explicável: odores desagradáveis sinalizam perigo, assim como o cheiro da comida estragada sinaliza risco de envenenamento. Nos dois casos, o cérebro comanda o afastamento.

Porém a presença dos familiares e amigos é extremamente importante nos asilos. O calor humano pode ser mais importante para a qualidade de vida dos idosos do que conforto material ou medicamentação. Portanto, a solução é melhorar o ar. E essa é a missão de Beat Grossenbacher, um empresário suíço especializado há vinte anos no "enobrecimento de ares", como explica em causa própria.

Testes sensitivos

Em sua pequena empresa em Wangen an der Aare, um pequeno vilarejo ao leste de Berna, Beat convida clientes para testes sensitivos. De uma caixa com centenas de frascos coloridos, ele retira um deles e asperge o líquido no seu interior em um pedaço de pano. Ao aproximá-lo do nariz do visitante, a primeira reação é de asco. "E como se você estivesse em um ambiente com uma forte concentração de urina, como em alguns banheiros públicos", explica Beat. O líquido é amoníaco.

Logo depois, ele coloca em cima do mesmo pano um concentrado de limão, como os que são utilizados nos desinfetantes caseiros. "Qual a impressão agora?", questiona ao visitante. Este balança negativamente a cabeça. "Sim, a combinação dos dois odores acaba tornando a situação ainda pior", toma a palavra o suíço. Então ele pega outro tecido, asperge amoníaco e, logo depois, outra substância incolor. Milagrosamente o cheiro forte desaparece, apesar de não lembrar necessariamente uma torta de morango. "Esse é o nosso neutralizador", esclarece.

O produto mágico se chama "Airomex". Trata-se de uma mistura à base de açúcar de milho, que foi patenteada mundialmente por Beat Grossenbacher e um químico associado. "Ele é capaz de segurar as moléculas do mau cheiro". Nove variações foram criadas para combater os problemas mais diversos como odor de toalete, tabaco, gordura na cozinha, suor ou lixo.

As substâncias são aspergidas através de aparelhos desenvolvidos por Beat pela sua, batizada com o sugestivo nome de "Air Creative". Com aproximadamente trinta funcionários em toda Europa, ela produz anualmente 15 mil aparelhos para enobrecer o ar, além dos aromas.

Cheiradores

Os aparelhos custam entre mil e cinco mil francos (1.100 e 5.500 dólares). O preço elevado se explica pelas qualidades especiais. "Em primeiro lugar, eles aspiram e filtram o ar ruim; depois o neutralizam e então misturam com óleos essenciais", afirma orgulhoso o empresário, revelando também que todos os óleos são fabricados com produtos naturais, em grande parte ervas plantadas pelos fazendeiros locais ou importadas de países exóticos.

A utilização dos aparelhos e odores é a mais variada possível. Através de gráficos coloridos, onde termos como "introversão", "tranquilidade", "gosto pelo risco" e "paixão" são correspondidos a diferentes cores do arco-íris, Beat explica como aplicar seus produtos segundo diferentes objetivos. "Os bancos querem transmitir sentimentos como frieza, disciplina e confiança, todos no lado azul. Assim utilizamos combinações de óleos como pau-rosa ou terebintina como você pode ver no quadro". O aroma é discreto, mas lembra de fato os ambientes neutros de uma agência.

Já para os asilos de idosos, Beat recomenda odores do tom amarelo, verde ou azuis como folhas de picea ou tomilho. "Elas harmonizam, tranquilizam e também elevam a moral", lembra o empresário. Já outras combinações não funcionariam muito bem como o patchuli ou eucalipto, já que um tem efeitos "eróticos" e o outro, "estimula o apetite por riscos".

Beat chega a revelar ter criado um perfume que "seduz as mulheres". Ele retira da sua caixa um vidro com um adesivo vermelho e coloca em cima do pano. "Essa é uma mistura especial minha com ylang ylang, sândalo e cananga". O perfume é forte, mas sem ser penetrante. Questionado, o empresário não confirma se já utilizou na prática. "Porém esse aroma funciona bem nas discotecas", brinca.

Combinações aromáticas

Os clientes da pequena empresa suíça são diversos. As lojas da Levi's, Siemens, Volkswagen, a rede de farmácias Apotheken, Hugo Boss e até Beate Uhse, uma grande rede alemã de artigos eróticos, utilizam a tecnologia de Beat.

No total, a Creative Air vende 90 tipos de combinações aromáticas. E os negócios estão crescendo no setor. O faturamento da empresa em 2009 foi de 1,7 milhões de francos. Beat Grossenbacher acaba de retornar da EuroShop, uma grande feira na Alemanha, onde exibiu seus produtos e também um aparelho de testes. Nele, através de eletrodos, os potenciais clientes podem verificar as partes do cérebro que são ativadas segundo os aromas experimentados.

Curiosa atividade para uma pessoa sem formação acadêmica ou próxima a área química. Porém o serralheiro mecânico Beat Grossenbacher é chamado pelos funcionários de "O Nariz", tamanho é o seu conhecimento do mundo dos odores. Ele justifica o interesse através das várias viagens que fez à África e suas experiências de cura através de óleos essenciais.

Porém exemplos simples do cotidiano mostraram ao empresário que essa era uma área de grande potencial. "Qual a melhor propaganda para uma pizzaria do que o cheiro de manjericão e tomilho saindo do forno à lenha", brinca. E completa: "Isso se aplica a tudo na nossa vida."

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