29/04/2015

Brasileiros alteram padrão internacional em UTIs

Com informações da Agência Fapesp
Brasileiros alteram padrão internacional usado em UTIs
Pesquisa feita no Incor deverá reduzir a mortalidade de portadores da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, internados em UTIs.
[Imagem: Wikimedia]

Balões de oxigênio

Um estudo brasileiro publicado no The New England Journal of Medicine deverá mudar em todo o mundo o tratamento de portadores da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA).

Essa síndrome causa insuficiência respiratória e requer o uso de ventiladores mecânicos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) - popularmente conhecidos como "balões de oxigênio".

O problema é que os aparelhos podem causar danos sérios aos pacientes.

"O grande problema é que o equipamento de ventilação mecânica machuca ainda mais o pulmão e, assim, tem início um ciclo vicioso no qual o paciente depende cada vez mais do ventilador e a máquina pode agravar cada vez mais o quadro respiratório," explica Marcelo Amato, supervisor da UTI-Respiratória do InCor (Instituto do Coração) e coordenador da pesquisa.

Após analisar dados de 3.562 participantes de nove diferentes estudos, um grupo de pesquisadores do Instituto do Coração concluiu que o parâmetro mais importante para proteger o pulmão de pacientes nessas condições e aumentar as taxas de sobrevivência é a chamada pressão motriz ou pressão de distensão pulmonar, que corresponde à variação entre a pressão atingida na inspiração e a observada na expiração.

"Quanto maior for o valor da pressão motriz, maior é o risco, sendo que o limite aceitável seria por volta de 15 centímetros de água (cm H2O). Antes se acreditava que o mais importante era manter a pressão máxima (atingida ao final da inspiração) abaixo de 30 cm H2O, mas mostramos que isso não é importante", afirmou Marcelo.

Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

A SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo) é caracterizada por uma inflamação no pulmão que favorece o acúmulo de líquidos e resulta em um quadro de insuficiência respiratória.

Esse tipo de complicação é comum após casos graves de pneumonia, infecções abdominais e gripes fortes, como a causada pelo vírus H1N1 (gripe suína). Também costuma afetar vítimas de traumatismo, afogamento e incêndio, quando há inalação de grandes quantidades de fumaça.

De acordo com o pesquisador, o dano físico ao pulmão, induzido pelos aparelhos de respiração assistida, está relacionado principalmente a dois fatores: a alta concentração de oxigênio inalada (necessária para manter o paciente vivo) e o excesso de energia e pressão com que o ar é jogado dentro do pulmão pelo equipamento.

"Sabemos hoje que foi essa a causa da morte do presidente Tancredo Neves, por exemplo. Ele foi operado para retirar um tumor do intestino, acabou desenvolvendo sepse abdominal e, depois, a SDRA. Acabou morrendo de insuficiência respiratória porque o tratamento padrão na época era agressivo ao pulmão," contou Marcelo.

Esse tratamento agressivo agora deverá ser mudado em todo o mundo, graças ao estudo realizado pela equipe brasileira.

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