17/06/2020

Como as mídias sociais fazem ódio e desumanização parecerem normais

Redação do Diário da Saúde
Como as mídias sociais fazem ódio e desumanização parecerem normais
Monumento aos pracinhas no Rio de Janeiro, homenageando os soldados brasileiros que lutaram contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial.
[Imagem: Fernando Dallacqua/Wikimedia]

Eixo versus Aliados

Psicólogos fizeram uma nova análise do discurso adotado nos posts e comentários do Facebook que destaca como as mídias sociais e o senso de identidade de um indivíduo podem ser usados para desumanizar grupos inteiros de pessoas.

"Fundamentalmente, queríamos examinar como as plataformas online podem tornar normal o ódio e contribuir para a desumanização," destaca a professora Jessica Jameson, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA). "E descobrimos que um modelo estabelecido do papel que a identidade desempenha em conflitos intratáveis parece explicar grande parte desse comportamento".

Os pesquisadores avaliaram as mensagens que propagavam o ódio em sites ligados ao espectro de direita da política, que voltaram a ganhar espaço décadas depois que os fascistas foram derrotados na Segunda Guerra Mundial. Os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro já chegaram a defender que os antifascitas - como o foram os Aliados da Segunda Guerra - fossem considerados terroristas.

Ódio e desumanização

Especificamente, os pesquisadores examinaram os comentários relacionados a outros comentadores que não se consideravam politicamente de direita.

"Nós descobrimos que a linguagem usada nessas interações no Facebook se aproximava muito de três estágios que vemos na teoria do conflito intratável de Terrell Northrup," disse Jameson. "Um estágio é a ameaça, que significa que as pessoas em um grupo percebem outro grupo como uma ameaça à sua identidade. Por exemplo, um comentário representativo que encontramos foi que 'os esquerdistas são o nosso demônio, por causa de sua existência, o país está sendo destruído e o exército enfraqueceu'.

"Um segundo estágio é a distorção. Isso basicamente significa que o primeiro grupo não se envolverá com novas informações relacionadas ao outro grupo - em vez disso, eles vão distorcê-lo ou desacreditá-lo como irrelevante por algum motivo. Por exemplo: 'Não sei se realmente quero saber a resposta para a questão de se o pensamento de esquerda se deve à estupidez infinita ou à ingenuidade infinita'.

"Um terceiro estágio é o enrijecimento [de opiniões] - onde as pessoas ficam presas em suas posições, dificultando ou impossibilitando a mudança de opinião sobre o outro grupo," explicou Jameson.

E, nesse ponto, esses radicais já estão a um passo de se sentirem "superiores", mais humanos do que os outros.

"É aqui que a desumanização ocorre, e vemos as pessoas se referindo à esquerda política como 'baratas', 'vermes' ou 'cães fedorentos'. E quando as pessoas param de ver os membros de um grupo como humanos - isso é perigoso. A preocupação que é levantada pelo nosso trabalho aqui é que, quando um grupo identitário usa essas plataformas para desumanizar outro grupo, não há possibilidade para conversação com aqueles que têm pontos de vista diferentes. E as coisas podem se tornar perigosas," concluiu Jameson.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The Normalization of Hatred: Identity, Affective Polarization, and Dehumanization on Facebook in the Context of Intractable Political Conflict
Autores: Tal Orian Harel, Jessica Katz Jameson, Ifat Maoz
Publicação: Social Media + Society
DOI: 10.1177/2056305120913983
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