O tempo passa mais devagar na infância?
O tempo parece ter seus truques, frequentemente iludindo nossas lembranças e nossas previsões. Muitos de nós experimentamos a ilusão de que aquelas longas férias durante a infância pareciam muito mais longas do que os mesmos 30 dias agora como adultos.
Pesquisadores da Hungria se propuseram a mensurar esse efeito. Para isso, Sandra Stojic e colegas da Universidade Eotvos Loránd mediram como eventos afetam as estimativas de duração em três faixas etárias: 4-5, 9-10 e 18 anos ou mais.
O experimento envolvia dois vídeos extraídos de uma série de animação, balanceados em recursos visuais e acústicos, exceto por uma característica: O ritmo dos acontecimentos. Um dos vídeos consistia em uma rápida sucessão de eventos (um policial resgatando animais e prendendo um ladrão), e o outro era uma sequência monótona e repetitiva (seis prisioneiros sombrios fugindo em um barco a remo).
Os dois clipes foram reproduzidos em uma ordem equilibrada de 50%, começando pelo mais agitado. Depois de assistir aos dois vídeos, os voluntários respondiam a apenas duas perguntas: "Qual deles era mais longo?" e "Você pode mostrar as durações com seus braços?" - são perguntas fáceis de entender, mesmo para uma criança de 4 anos.
Os resultados mostraram uma tendência muito clara em cada faixa etária - a surpresa foi que, nas crianças em idade pré-escolar, a tendência está exatamente na direção oposta que nos jovens e adultos.
Quando o tempo fica mais longo
Enquanto mais de 2/3 dos alunos do jardim de infância perceberam o vídeo agitado como mais longo, 3/4 do grupo de adultos sentiu que o vídeo monótono era mais longo. O grupo de idades intermediárias expressou esse mesmo viés, mas mais moderado do que o adulto.
Tomando os três grupos de modo geral, o ponto de inflexão, quando o vídeo mais monótono passa a ser considerado mais longo, está por volta dos 7 anos.
O outro teste envolvia a distância da abertura do braço para expressar o tempo - sempre houve interesse dos cientistas em descobrir a relação entre tempo e espaço: "Em que direção está o futuro?", por exemplo.
Nesse experimento, houve uma tendência crescente de usar a abertura horizontal do braço conforme aumentava a idade: Enquanto as crianças em idade pré-escolar usavam 50-50% de gestos verticais e horizontais, na idade escolar essa proporção mudou para 80-90% em favor de expressões de braço horizontais.
Esses resultados são inesperados porque nenhum dos modelos científicos de percepção do tempo conseguiu prevê-lo. Os modelos biológicos de percepção do tempo se enquadram em duas categorias: neurônios semelhantes a marcapassos no cérebro e neurônios que exibem uma taxa de disparo decrescente com o tempo.
Ainda assim, "quem" interpretaria esses sinais no cérebro é algo que os cientistas não sabem responder. Ambas as classes de modelo assumem um "aprimoramento" contínuo das avaliações com a idade. No entanto, não foi isso que os pesquisadores constataram. Em vez disso, o que eles descobriram foi um ponto de inflexão muito claro por volta dos sete anos de idade.
Enigma do tempo
A equipe sugere mudar para os modelos heurísticos, introduzidos na ciência cognitiva por Amos Tversky e Daniel Kahneman, mas isso não os livra do problema da inflexão radical da avaliação por volta dos sete anos de idade.
Embora o enigma do tempo tenha intrigado e continue a intrigar a mente humana, é essencial perceber que esses conceitos fundamentais, como tempo e espaço, são mais complexos do que podemos definir por certos tipos de neurônios no cérebro.
Para discutir esses conceitos abstratos, é preciso conectar todas as peças biológicas e cognitivas. Será que algum dia completaremos esse quebra-cabeça? Só o tempo irá dizer.
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